Carrasco do Flamengo, Barco está em alta para ser a surpresa da Argentina na Copa do Mundo
Técnico Jorge Sampaoli foi ver pessoalmente o craque do Independiente, presença quase certa para os amistosos do começo do ano que vem
Todos os que já conversaram sobre futebol com os argentinos conhecem muito bem duas coisas. A primeira delas é uma cultura muitíssimo acima da média, com a grande maioria dos fãs do país vizinho conhecendo horrores sobre qualquer time ou campeonato. O segundo traço marcante é um tom de orgulho, quase de provocação, que indica a Argentina como o país com o melhor futebol do mundo.
Explicamos.
A pátria vizinha é realmente uma rainha da bola, com jogadores do nível de Alfredo Di Stéfano, Lionel Messi e do incomparável Diego Armando Maradona, aquele que muitos, até hoje, juram que teve uma carreira mais gloriosa que a de Pelé.
Cabe a ponderação: o que vale mais, ganhar uma única Copa como Maradona ganhou, em 1986, enfileirando adversários e deixando o mundo aos seus pés, ou três Copas brilhantes com o Brasil, que tinha um timaço e que ainda vivia o auge da safra história de seus craques, como Pelé?
Cada um que siga o seu raciocínio. Enquanto há discussão, há também uma renovação impressionante na Argentina. Kun Agüero, Ángel Di María e Gonzalo Higuaín já estão no passado. O momento agora é do craque Ezequiel Barco, que com somente 18 anos calou um Maracanã infernal como poucas vezes se viu. O carrasco do Flamengo e herói do Independiente pode ter conquistado muito mais que um título de Copa Sul-Americana. Pode ter cativado também a notória exigência do técnico Jorge Sampaoli, que fez questão de vê-lo pessoalmente no primeiro jogo da final, em Avellaneda, na casa do Independiente.
Fraca concorrência ajuda o garoto
Pois bem. Já falamos de Messi, Di María, Agüero e Higuaín. Podemos colocar Paulo Dybala e Mauro Icardi nesta lista. É difícil encontrar um país tão forte nas ligas europeias como a Argentina, mas a seleção, para ser bonzinho, tem sido um fiasco completo, uma pobreza que está deixando os argentinos (ainda) mais histéricos e sem saber por que o manto imaculado por Maradona não conquista um mísero título há exatos 25 anos – as atuais gerações nem sabem, então vale sempre resgatar. A última conquista argentina foi a Copa América de 1993, quando Gabriel Batistuta e Diego Simeone ainda jogavam.
Hoje quem não joga são os atacantes. Todas as opções escolhidas por Sampaoli deram para trás, e a Argentina, lembramos de novo, só se garantiu na Copa do Mundo no mais absoluto sufoco e ganhando, na última rodada, de uma seleção do Equador que já estava mais pensando no que fazer nas férias do que em segurar Messi e companhia. O ataque da Argentina, tão badalado nos clubes, foi o pior das Eliminatórias durante quase toda a competição. Isso mesmo: pior até que o da Bolívia e o da Venezuela.
E é aí que Barco entra.
Na Argentina não há nenhum dono de posição. Nem Messi – por mais estranho que pareça. O gênio do Barcelona, claro, merece ser titular e estar sempre em campo, mas não são tão raras assim as partidas nas quais não se entende seu baixo nível e sua pouca entrega. O que vale mais a pena, contar com um gênio adormecido? Ou um “cachorro louco” como tantos argentinos ficaram famosos, e aqui vamos lembrar só de três, casos de Leopoldo Luque na década de 1970, Cláudio “Piojo” López, nos anos 90, e Carlitos Tevez, mais recentemente, todos exemplos de uma raça absurda que compensava – em muito – qualquer deficiência técnica?
Fazer o que Maradona não fez
Barco tem somente 18 anos e a carreira toda pela frente, mas este 2018 pode marcar a chance de se obter uma possibilidade que nem Maradona conseguiu. Diego foi relacionado para a seleção que disputaria o Mundial de 1978, na própria Argentina, mas foi cortado em uma decisão que gera polêmica até hoje. A primeira Copa de Maradona foi a de 1982, quando ele tinha 21 anos.
Que ninguém atire todo o peso da responsabilidade sob os ombros de Barco. Sua personalidade no Maracanã ensandecido foi realmente brilhante. Muito mais que uma “personalidade” em si, os argentinos enxergaram sua excelente atuação como um exemplo de “inconsequência positiva”.
Por isso a chance de levá-lo à Copa não deve ser descartada.
A Argentina está traumatizada demais depois de tantos fracassos. Perdeu Mundial para a Alemanha, perdeu duas Copas Américas para o Chile, deu fiasco na Olimpíada, deu fiasco no Sub-20. Ter um sangue novo – e vitorioso – que revigore a seleção é necessário. Sampaoli sabe disso. Barco também. É bom o Brasil começar a olhar melhor para esta dupla a partir de março, quando a Argentina realiza amistoso contra a Itália e começa a mostrar, de fato, qual a sua cara na Copa do Mundo da Rússia.