Gallardo ganha o 7º título com o River. O que os times do Brasil estão esperando para contratá-lo?
Treinador argentino desponta como o melhor da geração atual, e o final de ano é a deixa perfeita para um clube brasileiro tentar trazê-lo
Sete semestres, sete títulos. Impressionante. O técnico argentino Marcelo Gallardo ergueu no sábado (9) o seu sétimo troféu desde que chegou ao River Plate, clube onde brilhou como camisa 10 e agora se consolida como o maior treinador dos 116 anos de história da imensa instituição de Núñez. A conquista do último final de semana foi a Copa Argentina – equivalente à Copa do Brasil, conquistada com um 2×1 sobre o Atlético Tucumán. Os gols foram de Scocco e Nacho Fernández – este último, um golaço que pode concorrer tranquilamente ao prêmio de gol mais lindo da Argentina nesta temporada.
Ele não é chamado de Napoleão à toa
Gallardo está com 41 anos e é um técnico bastante jovem. Basta lembrar que Zé Roberto encerrou sua carreira de jogador sendo ainda mais velho. O técnico do River tinha somente 38 quando assumiu, logo amealhando uma inédita fileira de conquistas pela equipe vermelha e branca. Ele foi campeão da Sul-Americana (em 2014), da Libertadores (em 2015), da Recopa Sul-Americana (em 2015 e 2016), da Copa Argentina (2016 e 2017) e da Suruga Bank (em 2015). Pode-se dizer tranquilamente que o título deste sábado (9) foi o seu mais difícil.
Gallardo honrou o apelido de “Napoleão” mostrando ser um impecável estrategista. Ele precisou lidar com baixas graves. A primeira delas foi a dificuldade de remontar um elenco com a temporada em andamento. O time que usou para estrear na Libertadores, por exemplo, se viu sem ataque poucos meses depois. Rodrigo Mora operou o quadril e ainda nem sabe se vai voltar aos campos. Os argentinos Driussi e Alario (este último, em plena atividade pela seleção) trocaram Núñez pela Europa. Foi Gallardo quem deu o aval para a acertada chegada dos experientes Pinola (zagueiro), Enzo Pérez (volante) e Scocco (atacante).
E outras duas enormes participações suas ocorreram ao superar os casos de doping que afastaram os zagueiros Martínez Quarta e Mayada, além de toda a dificuldade de se recuperar da eliminação para o Lanús na Libertadores. É extremamente injusto rotular a temporada do River apenas por esta queda. O time fez uma campanha excelente, dominando todos os adversários – até mesmo o Lanús, que foi extremamente favorecido pela arbitragem naquela triste noite. Pode-se dizer que o River fez 11 jogos e meio de extrema competência nesta Libertadores. Nos únicos 45 minutos em que foi confundido por um juiz desastroso e um adversário valente, causou uma das maiores zebras da história recente do futebol argentino com a classificação do Lanús depois de abrir 3×0 no agregado da semifinal.
O Brasil seria um excelente destino
Gallardo deu sinais de desgaste neste ano com o River, mas resolveu seguir no clube nas próximas temporadas. Ele, na verdade, comunicou sua intenção de continuar, mas condicionou sua permanência à vontade do ganhador das eleições presidenciais no River – que deveria acontecer na semana passada, mas foi cancelada pela Justiça.
Eis a brecha que pode trazer Gallardo ao Brasil.
Não é nada impossível imaginar que times que carecem de um treinador deste quilate possam ser bem-sucedidos na tarefa de trazê-lo. Seria um nome excelente, por exemplo, para Santos, Internacional ou Flamengo (se Reinaldo Rueda realmente decidir trabalhar na Colômbia para cuidar da mãe que está doente).
A tentativa de se contar com Gallardo passaria, claro, por um salário astronômico. Um treinador “AAA” no Brasil ganha cerca de R$ 1 milhão – e Gallardo certamente valeria o investimento pelas conquistas e pelo estilo que impôs ao River nos últimos anos.
A precária situação da economia da Argentina é um agravante que facilitaria as tratativas brasileiras com ele. Estima-se que Marcelo receba do River algo em torno de R$ 300 mil. Tomar a ponte aérea e passar a trabalhar no mercado vizinho faria este salário triplicar com o “plus” de poder lidar com um futebol mais civilizado e menos amador que o da Argentina, onde o técnico já mostrou cansaço com tantas atitudes anti-desportivas – a conduta violenta do Lanús na semi da Libertadores é o que está mais fresco na memória.
Uma saída de Gallardo rumo à Europa está descartada, por enquanto.
Seus filhos jogam na base do River, e o técnico quer acompanhar de perto – ou nem de tão longe, como seja – o desenvolvimento de Nahuel e Matías. Nahuel já estreou inclusive entre os profissionais. O dirigente que pensar longe pode buscá-lo sem sustos. Os técnicos argentinos vivem o melhor momento da história. Não à toa, nada menos que cinco treinadores do país vão comandar seleções na Copa do Mundo.
E contratar o melhor deles para dirigir um time no Brasil, convenhamos, seria uma incorporação de grande peso e impacto. Tomara que vingue.