José Aldo cansou de ser o ‘bom moço’ no UFC. Isso é bom ou ruim para ele?
Preparem-se para um novo José Aldo. Ou não. Segundo campeão absoluto dos penas do UFC, uma nova postura será adotada diante das tendências atuais no mundo das lutas. “O que move é o dinheiro”. E hoje em dia algo que gera um retorno financeiro muito grande é ser provocador, falastrão e muitas vezes desrespeitoso. Características opostas àquelas que fizeram de Aldo um campeão tão respeitado, especialmente no Brasil.
Durante a coletiva de imprensa realizada para promover o UFC 212, no Rio de Janeiro, nesta semana, José Aldo deixou claro que se tiver que fazer algo que não está acostumado para garantir dígitos em sua conta, ele o fará. Deixou muito claro também que não gosta de agir de tal forma, mas que entende os novos tempos da modalidade e sabe o que dá certo. Para ele, “ser o bom moço” não dá mais certo.
É sempre bom lembrar duas coisas. A primeira é que Aldo conquistou respeito e relevância no mundo das lutas agindo conforme sua personalidade. Exatamente por não “dançar conforma a música”. Sempre disse o que pensava, agiu como queria e sempre mantendo o respeito. Mas o segundo ponto a se lembrar é que o brasileiro já foi vítima do próprio estilo – ou para ser mais justo da falta de espírito de falastrão. Ele chegou a anunciar sua aposentadoria quando viu Conor McGregor conquistar a chance de disputar o cinturão dos leves do UFC enquanto ele o esperava para uma revanche nos penas. E essa foi apenas uma das vezes em que ele se olhou no espelho e provavelmente pensou. “Será que se eu fosse um falastrão conquistaria mais coisas?” É algo difícil de se responder. Ele conquistaria muita coisa, especialmente dinheiro, mas é difícil prever o dano que isso faria a seu legado.
Depois de tantos anos construindo um legado de respeito e original, Aldo pode estar indo para um caminho perigoso. Os fãs que o acompanham há muito tempo o admiram por não se corromper àquilo que se espera de um lutador comum. Ele sempre foi original, e embora não seja sucesso de vendas, gera o suficiente para protagonizar uma bela carreira. Mas talvez o “efeito McGregor” tenha feito Aldo querer ser o protagonista do esporte. Ou, quem sabe, essa é a melhor forma de chamar a atenção do irlandês e garantir a revanche com ele. É uma hipótese bem possível também.
Mudar sua postura é bom para Aldo? Pode até ser, mas ele deve tomar cuidado. Para começar, o campeão tem uma mania difícil de desmentir declarações. Por diversas vezes, principalmente diante da imprensa brasileira, ele já voltou atrás no que disse e acusou os profissionais de o entenderem errado. Imagine a confusão se ele quiser adotar uma postura com a qual não está acostumado. Mais do que isso, Aldo não fala inglês, então um pensamento mal organizado e mal traduzido pode virar uma arma contra ele mesmo. Fora que normalmente quem é conhecido como falastrão ou craque em promoção ou nasceu com tal dom (como no caso de McGregor) ou tem uma assessoria que guie tal caminho. O brasileiro não me parece ter nenhum dos dois.
Mudar de time à essa altura do campeonato pode dar errado. Ele pode se promover melhor? Pode. Mas não significa que ele tenha de mudar totalmente sua atitude e considerar até “xingar a mãe” dos rivais pelo simples motivo de que isso “vai dar dinheiro”. Querer ganhar dinheiro é uma coisa. Fazer tudo por ele, é outra. Que José Aldo não se esqueça que ele sempre foi respeitado exatamente pelo que ele é, e não pelo que ele acha que tem de ser.