Por que os argentinos amam tanto o Maracanã?
Decisão entre Flamengo e Independiente revive nesta quarta (13) o caso de amor do país vizinho com o mítico estádio que já foi o maior do mundo
A rivalidade entre Brasil e Argentina no futebol dispensa comentários. Mas quem já morou ou passou um tempo a mais em Buenos Aires sabe bem que uma coisa está muito acima de qualquer rixa: a verdadeira paixão que os argentinos têm pelo Rio de Janeiro e pelas suas maravilhas – incluindo, claro, as praias, o carnaval, o samba e o Maracanã que eles até hoje não aprenderam a escrever a falar corretamente. Para os argentinos ele é, e sempre será, o “Maracaná”.
De onde vem esta paixão?
Pode-se dizer tranquilamente que a verdadeira loucura argentina pelo Maracanã começou nos anos 70, com o início da TV nos dois países. Foi nesta década que houve talvez o auge do encantamento argentino pelo futebol brasileiro, uma herança clara da seleção de Pelé, Tostão e Rivelino na Copa do México, no próprio ano de 1970. A Argentina não se classificou para aquela Copa. Na falta da sua seleção para torcer, os argentinos paravam tudo o que estavam fazendo para se deliciar com a equipe canarinho que arrasou as rivais até erguer a taça depois de um 4×1 na Itália na decisão.
Contribuiu para a paixão pelo Maracanã também o fato de muitos argentinos jogarem no Rio exatamente naqueles tempos. Um grande exemplo é o goleiro Andrada, ex-Vasco, famoso por tomar o milésimo gol de Pelé justamente no Maracanã. Exemplos de jogadores do país vizinho no futebol carioca e brasileiro naqueles tempos não faltam. Para ficarmos apenas em três nomes, podemos falar dos brilhantes Cejas (goleiro do Santos), Perfumo (zagueiro do Cruzeiro) e do inigualável “Loco” Doval, companheiro de Zico no Flamengo e de Rivelino no Fluminense.
Não são poucos os veteranos – no Rio e em Buenos Aires – que suspiram de saudade do vistoso futebol e do despojado carisma do “Diabo Loiro”, como era conhecido Doval especialmente nas praias cariocas, onde fez mais sucesso que no próprio Maracanã.
Igualmente especial para os argentinos foi ver, logo na sequência, um representante seu naquele fantástico Flamengo de Zico, Leandro e Júnior. Em 1984, ninguém menos que o goleiro “Pato” Fillol, campeão da Copa de 1978 com a Argentina, foi contratado para calçar as luvas rubro-negras. Até hoje há quem se lembre dos programas especiais da TV argentina mostrando como cambiam até 150.000 pessoas em um estádio de futebol. No país, jamais houve um campo maior que o Monumental de Núñez, que em seu ápice de capacidade não ultrapassou nunca os 80.000 torcedores – ou seja, o Maracanã era simplesmente o dobro do que os argentinos podiam frequentar.
Um ídolo e um peso
Quem costuma viver em São Paulo e Buenos Aires pode traçar um paralelo sem medo de errar. Enquanto o paulistano tem um verdadeiro fetiche por Miami, o portenho nutre o mesmo pelo Rio de Janeiro.
Um grande exemplo desta paixão é encontrado no ex-atacante Claudio Paul Caniggia, o carrasco do Brasil na Copa do Mundo de 1990. Ele vive também no Rio, onde tem uma suíte no Copacabana Palace, sendo um personagem dos mais comuns para analisar o fenômeno. Em linhas gerais, pode-se dizer que o habitante argentino carrega um peso excessivo pelas décadas de sofrimento social, político e econômico. E estar no Rio ameniza este fardo e propicia a liberdade e o encanto que o roqueiro Charly García eternizou em um dos seus maiores sucessos cantando que “a alegria não era só brasileira”.
Não são poucos os argentinos que consideram que esta mitificação pelo Maracanã prejudicou bastante a seleção que disputou a final da última Copa lá mesmo, contra a Alemanha.
Pudemos ver pessoalmente como os jogadores argentinos estavam em êxtase com a chance de conquistar a Copa do Mundo no estádio onde todos ouviram sempre maravilhas dos mais velhos. Tanto a entrada em campo quanto o hino argentino no Maracanã estão, tranquilamente, entre os momentos de maior emoção para o país vizinho do último Mundial.
Nem precisa ir muito longe. Em entrevista publicada neste mês na revista “El Gráfico”, o volante Javier Mascherano declarou que “era perfeito demais a seleção argentina ganhar uma Copa do Mundo justamente no Maracanã”.
Este será sem dúvida um dos combustíveis para mover e incendiar o Independiente nesta quarta (13) de decisão no estádio querido. Vale lembrar que o “Rojo”, como a equipe é chamada, sabe bem o que é dar uma volta olímpica por lá. Foi o que aconteceu há 22 anos, quando a equipe desbancou o Flamengo de Romário, Sávio e Edmundo para conquistar a Supercopa da Libertadores exatamente no Maracaná, quer dizer, Maracanã.
Decisão da Copa Sul-Americana 2017
- Quarta-feira, 13 de dezembro, às 21:45 – Flamengo x Independiente – Palpite: empate