Copa do Mundo Rússia 2018

Análise: na era do futebol de resultado, estilo de jogo polêmico pode dar à França o bicampeonato da Copa do Mundo

Seleção Francesa
Foto: CHRISTOPHE SIMON/AFP/Getty Images

Com time bem postado na defesa, bola parada sendo fundamental e velocidade nos contra-ataques, Bleus dificilmente são surpreendidos; decisão contra a Croácia será a prova final do estilo de jogo de Didier Deschamps

Por José Neto

Sempre presente no Top 3 de qualquer lista dos candidatos ao título da Copa do Mundo na Rússia, a França foi a única seleção que manteve tal credencial e que estará neste domingo (15 de julho) na final do torneio. A partida contra a Croácia, às 12 horas (horário de Brasília), em Moscou, é o capítulo final de uma equipe que apesar de contar com as estrelas Antoine Griezmann, Kylian Mbappé e Paul Pogba tem apostado mais em um jogo tido como controverso, que nas semifinais até tirou alguns rivais belgas do sério. Diante disso, aquela velha questão em relação ao futebol de resultado versus futebol bonita volta à tona. Quem tem razão?

 

Jogo controverso

A Copa do Mundo de 2018 vai se mostrando um torneio bem aquém do esperado em termos técnicos. E nem mesmo as presenças dos principais jogadores do mundo como Lionel Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Hazard, Harry Kane, Salah, Mbappé, entre outros, foi capaz de encher os nossos olhos através de um estilo de jogo que chamasse à atenção.

Com exceção de alguns países, como Bélgica e Brasil, que se não foram brilhantes ao menos propuseram o jogo, a competição tem tido uma qualidade técnica bastante duvidosa.

A chamada era dos resultados está aí para provar que o jogo envolvente e para frente podem estar com os dias contados. É só olharmos a França, que mesmo possuindo jogadores de alto calibre, tem apostado em uma estratégia – eficaz, é verdade – contida.

 

Reclamações x estatísticas

Os belgas Hazard e Courtois foram os principais críticos ao pragmatismo da França, definindo-o como antifutebol. Mas a própria partida contra os Diabos Vermelhos serve para que os franceses possam se defender de tal acusação, já que a equipe campeã de 1998 foi quem mais produziu durante os 90 minutos.

Com Mbappé pelos lados de campo e encontrando as principais oportunidades de gol, como no passe açucarado para o lateral na Pavard na primeira etapa ou então para Giroud, em jogada magistral de calcanhar no segundo tempo, os Bleus tiveram 19 chutes a gol, sendo cinco no alvo, oito para fora e seis bloqueados, contra apenas nove dos rivais (três em direção ao gol, cinco para fora e um bloqueado).

Se não foi brilhante, a equipe dirigida por Didier Deschamps se mostrou bastante intensa, marcando em diversos momentos a saída de bola de Courtois ou mesmo peças rivais, como Fellaini e De Bruyne, e se movimentando bastante para pegar a defesa adversária desprevenida.

 

Bola parada

Uma característica bastante evidente da França, que não tomou gols em quatro dos seis embates até aqui realizados, é a jogada de bola parada. Em um Mundial em que os espaços dentro dos gramados estiveram cada vez mais curtos, as jogadas de escanteio, laterais, faltas e, obviamente, os pênaltis se tornaram imprescindíveis. E os Bleus souberam utilizar este fator.

O gol de cabeça de Umtiti após cobrança precisa de escanteio de Griezmann foi o suficiente para os franceses baterem os belgas, mas tal estratégia também funcionou anteriormente. Contra a Argentina, em jogo das oitavas de final, por exemplo, o placar de 4×3 teve gol de pênalti do atacante do Atlético de Madrid – também fez na abertura, contra a Austrália. Já contra o Uruguai, cobrança de falta precisa de Griezmann para o gol de Varane, abrindo o marcador que posteriormente se encerraria em 2×0.

 

Mudança de estilo

Depois de ser surpreendido em casa por Portugal na final da última Euro, o técnico Didier Deschamps encontrou uma estratégia dos tempos de Juventus, clube no qual atuou como jogador e treinador, para mudar o rumo da seleção. Se antes os Bleus mantinham a posse de bola como forma de envolver as defesas adversárias, a equipe de 2018 dá a bola para o adversário. Com uma postura mais compacta no campo de defesa e apostando no jogo físico, a França aguarda por um erro adversário e, ao mesmo tempo, busca por uma roubada de bola para acionar Griezmann, o distribuidor de assistências (duas nesta Copa do Mundo), ou mesmo Mbappé, responsável por dar velocidade ao ataque.

Isso ficou claro nas partidas contra a Argentina, na qual o camisa 10 teve ótima atuação com dois gols, e recentemente contra a Bélgica, que se não fez gol foi fundamental nas movimentações ofensivas. Ao mesmo tempo, em ambos os embates os franceses tiveram menor posse, confirmando a mudança de estilo de jogo. Agora, resta saber como Deschamps irá se comportar diante da Croácia.

 

Disputa do terceiro lugar da Copa do Mundo 2018

Sábado, 14 de julho

  • 11:00 – Bélgica x Inglaterra – Palpite: Bélgica

 

Final da Copa do Mundo 2018

Domingo, 15 de julho

  • 12:00 – França x Croácia – Palpite: França

 

ATUALIZAÇÃO ANTERIOR: 10/07/2018

Análise: França. O técnico Didier Deschamps está mesmo à altura do desafio contra a Bélgica?

As vitórias da seleção francesa até aqui lhe dão respaldo, mas Didi, como é chamado o treinador, desembarcou na Rússia rodeado de polêmicas e desconfianças…     

Por Matías Carranza 

Para o bem ou para o mal, o técnico francês Didier Deschamps será o grande personagem da Copa do Mundo daqui por diante. Ele está a duas partidas de se tornar o terceiro homem a ser campeão mundial de futebol como jogador e técnico, repetindo o feito do brasileiro Zagallo (em 1958, 1962 e 1970) e do alemão Franz Beckenbauer (1974 e 1990). O primeiro compromisso já está bem definido: será a semifinal contra a Bélgica, a partir das 15h (de Brasília) desta terça-feira (10), em São Petersburgo. Mas não são poucos os europeus, especialmente os franceses, que olham para a sua figura com extrema desconfiança. O Ganhador explica e analisa.

 

Trajetória maiúscula

Deschamps tem 48 anos e é técnico da França desde 2012, depois de boas passagens por Monaco, Juventus e Olympique de Marselha. O período à frente da seleção foi marcado por duas coisas: por um elenco muito caro e pela sua dificuldade em lidar com o ego de jogadores jovens e muito promissores, mas que ainda não atingiram o topo das suas carreiras, como mostraram a derrota nas quartas de final da Copa do Mundo de 2014, para a Alemanha, e o segundo lugar na Eurocopa de 2016, na própria França, quando perdeu a decisão para Portugal.

Didi, como é chamado desde os tempos em que jogava, jamais foi um craque. A comparação com Dunga é inevitável: ele era o típico camisa cinco, de marcação, com uma leitura de jogo acima da média e um jeito totalmente mandão. Ninguém, porém, pode negar que ele foi um dos melhores do mundo na sua função ao longo dos anos 90. Tampouco é possível contestar que ele foi vencedor como poucos. Conquistou duas vezes a Liga dos Campeões (uma com a Juve e outra com o Olympique) e era o capitão da França campeã da Copa do Mundo de 1998.

Aos 32 anos, jogando pelo Valencia, decidiu pendurar as chuteiras e virar treinador. Confiava na sua voz de comando e no seu poder perante a tropa, e no começo tudo saiu realmente bem. Com o Monaco, atingiu a decisão da Champions de 2004, e depois foi ajudar a Juventus, que vinha com problemas de corrupção. Passou mais uma vez pelo Olympique e em 2012 assumiu a seleção francesa, que vinha de eliminações na primeira fase do Mundial de 2010 e nas quartas de final da Eurocopa daquele ano.

 

Choque com as estrelas

Deschamps é tido pelos franceses por alguém que muitas vezes não tolera bem alguns caprichos dos atletas da atual geração. Houve bastante polêmica com a sua convocação e com a decisão de deixar fora jogadores de renome mundial como os atacantes titulares do Manchester United (Anthony Martial) e do Arsenal (Alexander Lacazette), o criador do PSG (Adrien Rabiot) e o sócio de Cristiano Ronaldo no Real Madrid (Karim Benzema), entre outros.

Deschamps, segundo o olhar de muitos, gosta de estabelecer quedas de braços com os seus jogadores – e quem se prejudica é a própria equipe. E isso ficou bem claro com a própria Copa em andamento, quando ele tirou Antoine Griezmann da equipe. A razão? O fato de Griezmann estar com a cabeça na renovação com o Atlético de Madri. E ele ainda criticou o atacante publicamente: “Contra a Austrália, esteve abaixo do normal. Deve fazer mais”, disse, deixando claro quem mandava.

Dias antes, havia dado outra mostra do forte temperamento. Irritado pela sua ausência na Copa, Rabiot postou uma crítica em sua rede social, e o técnico mandou “no osso”, como é o seu estilo: “É só olhar as três partidas que ele fez conosco”. Deschamps troca farpas com vários protagonistas e não se esconde das críticas. É a típica pessoa “sem pelos na língua”.

 

E Mbappé?

Uma das grandes atrações desta Copa do Mundo é observar o tratamento do explosivo Deschamps com outro explosivo – mas no bom sentido, o jovem Kylian Mbappé, de 19 anos, que tem sido talvez o grande nome do Mundial até aqui. Pois Deschamps não tem rodeios ao demarcar o território para o seu jovem, e o jogo contra o Uruguai deixou isso muito bem claro.

Mbappé tocou uma bola de letra, foi levantado pelos uruguaios e armou um princípio de briga. Deschamps esperou o atacante se levantar, o chamou até o banco e disse da maneira mais clara possível: “Me escute, Kylian, pare de fazer m…. Você não precisa. Não faça mais isso”. E Mbappé deixou o campo minutos depois.

“Ele tem só 19 anos e, como todo adolescente, não gosta que falem da idade dele. Mas ele é inteligente e sabe escutar. Ele está aprendendo, e seja qual for o seu talento, ele sempre vai ter o que aprender”, afirmou depois do jogo.

Deschamps garante que não se perturba com as críticas e que sabe o que é necessário para os seus jogadores. E um dos seus grandes cuidados neste convencimento é com a aparência. Garante que estar bem fisicamente é um dos motivos pelo qual um atleta respeita o seu comandante. Por isso, é presença constante em treinamentos físicos e em quadras de paddle, sua grande paixão. “Me faz bem para o corpo e para a cabeça”, costuma repetir. Resta saber o quanto desta terapia ele vai precisar depois da Copa do Mundo da Rússia…

 

Jogos das semifinais da Copa do Mundo 2018

Terça-feira, 10 de julho 

  • 15:00 – França 1×0 Bélgica  

Quarta-feira, 11 de julho 

  • 15:00 – Croácia 2×1 Inglaterra

 

ATUALIZAÇÃO ANTERIOR: 04/07/2018

Análise: a França é o melhor time da Copa do Mundo até aqui

Didier Deschamps tenta dissimular, mas os Azuis têm garantias de bom futebol em todas as linhas do campo e é a favorita ao título do Mundial da Rússia                        

No gol, Hugo Lloris, que esbanja segurança, em que pese muitos não enxergarem assim. Na defesa, dois laterais rapidíssimos (e técnicos) como Pavard e Hernández, e zagueiros vigorosos como Varane e Umtiti. Podemos até pular os volantes Pogba e Kanté e ficarmos só com os criadores e com os atacantes Mbappé, Griezmann, Matuidi e Giroud.

Por mais que a análise não seja do agrado do Brasil, que também está muito bem, o que a França faz na Copa do Mundo da Rússia a coloca sim como o time que apresentou o melhor futebol até aqui. O futebol é um esporte indomável, com milhões de variantes que turvam qualquer análise e desmonta qualquer prognóstico. Esta é a verdade. Mas não dá para ignorar que uma leitura mais atenta e imparcial dos fatos coloca esta equipe francesa como a grande força a ser batida agora na Rússia.

 

Muitos recursos

Das oito seleções classificadas para as quartas de final, a França foi aquela que precisou demonstrar mais em campo para bater a Argentina por 4×3 em um jogo que já está não só na história das Copas, mas também no rol das boas atuações que uma seleção pode produzir. Os Azuis começaram a partida atropelando a Argentina – que, provando toda a imprevisibilidade do futebol, começou o segundo tempo na frente, ganhando por 2×1, de virada, sem ninguém entender como aquilo era possível.

Para espantar qualquer negatividade, o que se viu daí em diante foi uma atuação realmente maiúscula de Mbappé e companhia. Contra uma Argentina tinhosa, que não à toa era a mais experiente da Copa, com média de idade acima de 30 anos, a França fez três gols em 11 minutos, demonstrando que têm recursos onde as outras equipes apenas sonham. Pavard, com um chutaço de longe, e Mbappé, indomável, com dois gols em quatro minutos, despacharam os argentinos que estão até agora procurando o caminho da milonga.

E nem faz muito sentido argumentar com os três gols sofridos pela França. Um deles, de muito longe de Di María, foi tão raro quanto indefensável. O segundo, de Mercado, foi de um desvio, e o terceiro, de Agüero, de um bate-rebate que poderia terminar em qualquer coisa. Terminou em gol. E a França não se abalou com isso, demonstrando que estava forte o suficiente para rumar às quartas de final como realmente fez.

 

França, com “F” de favorita

Davor Suker conhece o futebol com uma riqueza de detalhes muito difícil de se encontrar por aí. Artilheiro da Copa do Mundo de 1998, ele hoje é presidente da Federação Croata de Futebol. E nesta segunda-feira (2), falou o seguinte aos jornalistas presentes na Rússia: “A França é a melhor seleção da Copa até aqui. Fiquei surpreso com o alto nível que ela apresentou contra a Argentina. A França está na frente das outras equipes. O Brasil também é uma grande seleção, mas sou europeu, acompanho muito as seleções deste continente. A França está um nível acima, e as outras, um degrau abaixo. A França vai ganhar do Brasil? Não sei, no futebol tudo pode acontecer, é só ver os resultados da Copa. Mas a França é melhor”.

As sábias palavras de Suker encontram sentido em algo que tem sido muito explorado também pela imprensa internacional – especialmente a inglesa, que costuma ser muito crítica com tudo o que ocorre na vizinha França, mas que neste Mundial está realmente encantada com o desempenho de Mbappé e companhia. Tal sentido é o seguinte: a França hoje une com rara perfeição o presente, o passado e o futuro da geração do seu futebol, e este equilíbrio deve levar a equipe adiante – neste Mundial e nos próximos – sem muitas perturbações.

Deschamps era o capitão da França campeã em 1998 e goza de profundo respeito perante os mais novos – e quando falamos novos, falamos de gente que nem era nascida naquela conquista, como Mbappé, de 19 anos, que nasceu em dezembro de 1998. Tais adolescentes têm os ídolos de 1998 como verdadeiros deuses do esporte. Esta união entre o passado representado por Deschamps e o futuro de Mbappé é recheado também por atletas de reconhecida capacidade internacional que ainda mantêm viva uma grande “fome de vitória”. A França tem a seleção mais jovem da Copa, com média de idade de 26 anos, mas reforçada pela presença segura de veteranos como o goleiro Lloris, de 31, e de Matuidi, de 32, que deve ser substituído por Fekir, de 24 anos, contra o Uruguai.

É melhor mesmo torcer pelo Uruguai. Para o Brasil, cruzar com a França pela frente na semifinal vai ser muito mais complicado – de novo!

 

Jogos das quartas de final da Copa do Mundo 2018

Sexta-feira, 6 de julho 

  • 11:00 – França x Uruguai – Palpite: França
  • 15:00 – Brasil x Bélgica – Palpite: Brasil 

Sábado, 7 de julho 

  • 11:00 – Suécia x Inglaterra – Palpite: Inglaterra
  • 15:00 – Rússia x Croácia – Palpite: Croácia