Análise da Copa do Mundo: como o cansaço da Croácia vai interferir na final de domingo contra a França
Croatas e franceses se preparam para uma final que já está na história – será às 12h (de Brasília) de domingo (15) no Estádio Lujniki, em Moscou
De um lado, um time que é tratado como favorito pela qualidade dos seus jogadores e por não ter sofrido nenhum grande susto na Copa do Mundo até aqui. Do outro, uma seleção que chega à decisão aos tropeções, mas mostrando uma garra ainda maior do que as suas limitações. É com enredos bem diferentes entre si que França e Croácia se perfilam para a grande final da Copa do Mundo que terá um componente extra neste ano – o cansaço dos croatas. O Ganhador explica e analisa.
Um jogo a mais
É inédito na história das Copas. Jamais um time superou três prorrogações seguidas para chegar a uma decisão de Mundial. A única que pode ser comparada a esta Croácia é a Argentina de 1990, que superou Iugoslávia (quartas) e Itália (semi) nos pênaltis e depois perdeu o Mundial para a Alemanha com um 1×0, gol de pênalti no finalzinho do segundo tempo.
Eram outros tempos, é bem ressaltar. Há 28 anos, a Copa do Mundo tinha apenas duas substituições, e hoje em dia há a possibilidade até mesmo de se realizar uma quarta alteração caso a partida vá para o tempo extra. Mas não foi este o caso de uma Croácia que surpreendeu demais pelo tanto que correu durante os 120 minutos contra a Inglaterra. Não é mera opinião. É estatística. Segundo a contagem da Fifa, a Croácia até aqui correu 723,9 quilômetros nas seis partidas que fez. Foram três pela fase de grupos, mais três nos mata-matas e mais três prorrogações. Esta quantidade é bastante surpreendente por ser 116,4 quilômetros a mais do que a soma dos franceses, que se deslocaram por 607,5 km. Ou seja: são quase três maratonas inteiras de diferença (a distância olímpica mais longa registra, cada uma, 42,195 quilômetros).
Distância coletiva e individual
Se há um verdadeiro abismo entre o desgaste imposto a croatas e franceses, é interessante observar também que as grandes estrelas de cada uma das equipes entram nesta decisão em situações realmente opostas. Pegamos como exemplo Luka Modric, Kylian Mbappé e Antoine Griezmann. Até aqui, Modric correu 63,03 quilômetros nesta Copa, sendo o jogador que mais se deslocou em todas as partidas. Mbappé (43,4 km) e Griezmann (54,9 km) entram na decisão muito menos cansados. Três dos cinco primeiros neste volume de distância percorrida são croatas, com Rakitic (62,85 km) e Perisic (62,42 km) aparecendo ao lado de Modric no topo da contagem.
O técnico croata Zlatko Dalic surpreendeu ao não trocar ninguém durante os cansativos 90 minutos contra a Inglaterra, uma outra equipe que se caracteriza por um jogo físico e de muito empenho. “Ninguém quis sair. Conversei com os médicos e com os preparadores e vimos que o melhor seria mesmo respeitar esta sensação dos atletas. Ninguém desistiu”, analisou.
Vale lembrar que tanto França quanto Croácia fizeram um “intervalo” no meio deste Mundial com partidas que não valiam nada no encerramento da fase de grupos. A França poupou seis titulares no 0x0 contra a Dinamarca. A Croácia também resguardou seis atletas no 2×1 sobre a Islândia.
O desgaste de cada uma nos mata-matas, porém, não se compara. A França sempre saiu na frente no placar e só teve um leve abalo na partida contra a Argentina pelas oitavas, mas transformou a derrota parcial de 2×1 em um avassalador 4×2 em meros 11 minutos. Depois, houve controle quase total contra Uruguai (2×0 nas quartas) e contra a Bélgica em um 1×0 no qual o goleiro Lloris foi pouco acionado.
A Croácia esteve atrás no placar contra a Dinamarca e contra a Rússia, e o mesmo se viu contra a Inglaterra, que fez 1×0 ainda aos 4 minutos do primeiro tempo. O empate só saiu aos 23 do segundo.
O esporte profissional hoje se caracteriza pela agilidade das recuperações – o jogador leva menos tempo para “zerar o corpo” com os tratamentos disponíveis, como o usual banho de gelo e uma fisioterapia praticamente integral nas horas posteriores ao esforço.
O grande dilema vivido pela Croácia vai ser o desgaste mental. Não que os croatas já não tenham demonstrado muita resistência ao superar diversos obstáculos surgidos durante a campanha, mas o cansaço vai se refletir especialmente na tomada de decisões. O esporte de altíssimo nível – e poucas outras competições podem se comparar a uma final de Copa – se caracteriza pela agilidade e pela destreza de se fazer com que os gestos do corpo acompanhem o raciocínio. É aí que estará a fragilidade croata. Pode existir a vontade e pode existir a excelente condição física da recuperação – mas vai também existir a clara situação de a mente pedir uma coisa e a perna fazer outra levemente diferente.
E há um agravante: a França ainda atuou um dia antes. Aí pode estar a chave da decisão deste domingo.
Jogo da final da Copa do Mundo 2018
Domingo, 15 de julho
- 12:00 – França x Croácia – Palpite: França