Premier League

Demitido, Mourinho hoje é mais “Luxemburgo” e menos “Special One”

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Se deu bem quem apostou na inevitável queda de José Mourinho do comando do Manchester United. No clube desde 2016, após passagem apagada pelo Chelsea, o técnico português foi demitido na última terça-feira, dia 18, após derrota por 3 a 1 para o Liverpool na 17ª rodada da Premier League – resultado que mantém a equipe na 6ª colocação com 26 pontos conquistados com sete vitórias, cinco empates e cinco derrotas. Distante 19 pontos do líder, Liverpool, o próprio técnico jogou a toalha sobre as chances de título da equipe nesta temporada e na coletiva pós-jogo, quando questionado se o time já apresentava “a cara de José Mourinho” após quase três temporadas a lacônica resposta do português foi “não”. Apenas isso: “não”. Com tanta marra – e tão poucos bons resultados recentes – o português, que já foi cobiçado por todos os grandes clubes da Europa, dá margem à pergunta muito bem colocada pelo jornalista Marcondes Brito em seu blog: Mourinho virou uma espécie de Luxemburgo da Europa?

 

O clima inglês não lhe fez bem

José  Mourinho trocou a Espanha pela Inglaterra e o clima da ilha parece que lhe afetou negativamente. Na verdade, desde os tempos de Real Madrid o treinador português vinha apresentando uma marra desproporcional ao seu talento. Brigava até com a sombra – principalmente quando era surrado pelo Barcelona de Pep Guardiola. Ao trocar de endereço, Mourinho assumiu o comando do Chelsea. Sua última temporada por lá não foi das melhores mas, mesmo assim, o português recebeu o convite para assumir o Manchester United e nele acalentar o sonho de fazer história como Alex Ferguson que por 27 anos ocupou o posto de técnico do time. Com três títulos na bagagem (Supercopa da Inglaterra, Copa da Liga Inglesa e Liga Europa) desde maio de 2016 – data em que assumiu o posto no United – Mourinho mostrou-se cada vez menos “político” em suas declarações e colecionou problemas em Manchester. Em 2017, quando questionado sobre a diferença de desempenho para o rival Manchester City – comandado pelo desafeto Guardiola – o português disse que o City pagava por zagueiros aquilo que os demais clubes pagavam por atacantes. A desculpa de que “eles podem gastar mais” funciona apenas até a página 2 uma vez que muitos clubes por todo o mundo conseguem montar bons times com atletas “modestos” que ganham qualidade ao serem submetidos a métodos mais eficazes de treinamento.

Mas culpar o orçamento é um dos ítens preferidos do manual luxemburguês.

 

O fator Pogba

A relação de Mourinho com o meia campeão do mundo com a Seleção da França, Paul Pogba, nunca foi das melhores. O atleta de talento incontestável era sempre jogado aos leões pelo treinador que regularmente encontrava pontos para criticar o jogador mas nunca para fazer uma auto-crítica. Este é, aliás, outro traço marcante do Método Luxemburgo. Em sua passagem pelo Sport, para mostrar autoridade, o técnico brasileiro mediu forças com o ídolo da torcida Diego Souza e deu no que deu: demissão do “profexô”. Mourinho também criou problemas com Kaká no Real e com Davi Luiz no Chelsea – embora, paradoxalmente, tenha tentado levar o zagueiro para o United.

Pogba nunca escondeu sua falta de afinidade com o treinador e não foram poucas as vezes que os dois trocaram farpas pela imprensa.

 

Muito simples

Nos últimos tempos o mal-humorado português também se tornou mestre na arte de terceirizar responsabilidades – como nosso “profexô”, aliás. Raramente as derrotas do United eram fruto de equívocos do treinador. Para Mourinho – ainda valendo-se da glória dos dias de “Special One” –, seu trabalho podia ser resumido com a piada do “eu venci, nós empatamos e eles (os jogadores) perderam”. Com tantos problemas e tão poucos resultados, era fácil imaginar que a história entre José Mourinho e Manchester United terminaria como terminou.

É fato que, assim como Vanderlei Luxemburgo que durante muito tempo foi, sem a menor dúvida, o melhor técnico brasileiro, o português marrento também teve seu período de glória na Europa e conquistou o topo do mundo. Mas há tempos ambos os treinadores não conseguem repetir a “magia” que no passado produziram tão bem.

No Brasil, Luxemburgo é uma grife; um nome que sempre aparece na mesa quando um técnico é demitido mas que raramente é tratado como uma opção séria. Perdeu sua grande chance de dar a volta por cima com o Sport em 2017. Mourinho que conquistou títulos com o United mas não mostrou um trabalho consistente caminha a passos largos para se tornar o equivalente europeu ao nosso “profexô”. Ainda tem mercado no primeiro escalão da Europa mas um novo trabalho capenga como foram os dois últimos podem empurrar Mourinho de volta para Portugal ou para a China – onde encheria ainda mais os bolsos de dinheiro.