Libertadores e Sul-Americana: por que os times argentinos vencem mais que os brasileiros?
Soberania do país vizinho nas competições locais contraria a lógica econômica e a ordem do que acontece entre as seleções. Listamos 5 motivos para entender esta superioridade
Não há discussão: quando o assunto são as competições continentais entre clubes, a Argentina realmente olha o Brasil de cima para baixo. O placar de conquistas mostra uma vantagem bastante acentuada. Enquanto os vizinhos azuis e brancos ganharam a Libertadores 24 vezes, o Brasil ainda conta só 18 taças. A diferença na Sul-Americana é ainda maior: a Argentina conquistou a Copa oito vezes, contra meros três títulos do Brasil. A soma mostra uma diferença bem incômoda e que infla o orgulho argentino: está 32×21. São mais de dez torneios de diferença. E cinco razões ajudam a explicar por que a volta olímpica de tais competições são geralmente comemoradas em castelhano e com homens cabeludos e com as camisas repletas de suor e sangue.
1. Arbitragem
O Brasil realmente está ilhado na América do Sul – pelo idioma e pela sua escola de futebol tradicionalmente priorizar o talento sobre o esforço. Tal cultura se vê também nas arbitragens brasileiras, que marcam faltas em qualquer contato físico, criando uma proliferação de “canelas de vidro” treinadas às mais diferentes simulações. E isso é muito diferente na Libertadores. Os times argentinos e uruguaios, principalmente, se caracterizam por serem “rústicos, e não líricos”, como é dito em ambos em países. A arbitragem continental costuma adotar critérios bem diferentes daqueles que são encontrados por aqui. E é simplesmente vergonhoso que os times brasileiros geralmente escalem capitães que não conseguem conversar em espanhol com os árbitros. Qualquer curso intensivo de poucos meses resolveria o problema. Mas os times brasileiros preferem seguir reclamando.
2. Estádios
Quem já esteve na Argentina sabe perfeitamente que o clima nos estádios de lá exala uma paixão muito, mas muito acima daquela que o Brasil hoje pode oferecer neste futebol asséptico e gourmetizado da atualidade, com consumidores/espectadores nas arquibancadas, e não torcedores que deixam a garganta e o pulmão na arquibancada pelos seus times. O choque de realidade é gritante. Vem daí a razão de muitos jogadores brasileiros perderem a cabeça e serem expulsos nos países vizinhos. O jogo psicológico é pesado. E o ambiente influencia demais. A mente fica nublada e a tomada de decisão é muito prejudicada.
3. Cultura
Os times argentinos desde os primórdios, ainda na década de 60, criaram uma mística própria para jogar tais competições. Eles a colocam acima de qualquer outro torneio. Os brasileiros passaram a tratar a Libertadores como obsessão só dos anos 90 para cá. E a Copa Sul-Americana jamais foi uma competição que fizesse algum time verde-e-amarelo bater no peito. O engraçado é que o orgulho vem só depois da conquista. Antes, o discurso geral é tratar a Copa como competição de segunda linha. Na Argentina acaba sendo o contrário. Existe jogar pelos pontos e jogar pelas Copas. Pelos pontos se joga com raça. Pela Copa se joga até morrer. Dramático? Quem não considerar este fortíssimo componente “drama queen” jamais vai conseguir entender os vizinhos…
4. Amor à camisa
A soma do estádio enlouquecido e dos times motivados gera uma verdadeira comoção ao redor dos clubes. Vive-se uma semana de jogo importante na Argentina de maneira muito diferente do Brasil. Na Argentina, uma partida decisiva de competição sul-americana é vivida de forma mais enlouquecida até do que uma Copa do Mundo. O Brasil tem uma leveza saudável com relação a isso. Mas o contraponto é gerar uma certa apatia nos jogadores. Ganhar, empatar ou perder não costuma fazer tanta diferença – especialmente neste futebol repleto de dinheiro de hoje que dá a impressão, em muitos momentos, de o gramado ser um mero pano de fundo para as micagens nas redes sociais e para as campanhas publicitárias que enchem o bolso e esvaziam o “fogo sagrado” que qualquer competição esportiva sempre exige.
5. Motivação
O item cinco é diferente do quatro por uma razão simples: os argentinos respeitam demais o futebol brasileiro, pela qualidade técnica e pela superioridade econômica dos últimos anos. Ganhar dos “brazucas”, então, tem um significado quase de catarse, como se a resposta dada aos seus pares fosse a seguinte: eles têm dinheiro, nós temos coração. Nos medimos contra os melhores e ganhamos deles. Tal raça desmedida que se vê nos gramados argentinos têm muito deste componente de auto-afirmação. Em um paradoxo que torce a cabeça de qualquer um, o povo argentino é geralmente bastante orgulhoso e aguerrido. Tem uma negação à derrota que não é encontrada em nenhum outro lugar – nem no próprio Uruguai, outro país que vê seu futebol se caracterizar dessa forma. O orgulho e a forma exagerada de se batalhar escondem, na verdade, um complexo de inferioridade – daí muitas vezes os jogadores do país serem movidos a ódio e se afogarem na arrogância.
Nas seleções, o caminho passa por outros itens, e falaremos deles aqui no Ganhador mais para frente. Antes, teremos mais um Brasil x Argentina para analisar com este Grêmio x Independiente das 21h45 (de Brasília) desta quarta (21) com a finalíssima da Recopa Sul-Americana. O jogo de ida em Buenos Aires foi 1×1. A volta em Porto Alegre promete ser sensacional.