Amistosos de seleções

O dia em que Portugal e Holanda fizeram o jogo mais violento da história das Copas

Foto: T. Quinn/WireImage

Partida realizada no Mundial de 2006 até hoje é lembrada como “Batalha de Nuremberg”, com 16 cartões amarelos e 4 vermelhos                     

O que esperar de um jogo de Copa do Mundo com Cristiano Ronaldo e Luís Figo de um lado e Wesley Sneijder e Arjen Robben do outro? Gols e dribles? Provando que lógica e futebol não ocupam o mesmo gramado, a partida que esses quatro craques disputaram entre si na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, entrou para a história como a mais violenta de todas as Copas, com nada menos que 16 cartões amarelos e 4 expulsões – duas, ainda por cima, de uma Holanda que era comandada por um homem sempre lembrado como um craque e um exemplo de lealdade: Marco Van Basten.

Por que vale falar deste Portugal x Holanda? Porque as duas seleções se enfrentam nesta segunda (26) no amistoso que começa às 15h30 (de Brasília) em Genebra, na Suíça.

 

Libertadores em plena Copa do Mundo

“Foi um jogo intenso, disputado, dificil. Um jogo típico de Libertadores, que é uma guerra”, definiu o técnico Luiz Felipe Scolari, então comandante da seleção de Portugal, um expert em assuntos bélicos no futebol.

Tudo bem, em 2006 Cristiano Ronaldo não era o CR7 que amedronta as defesas hoje em dia, mas há 12 anos ele já punha medo e precisava lidar com o jogo bruto dos rivais. Foi o que o holandês Boulahrouz fez – em uma entrada fortíssima, tirou o português do jogo, ainda aos 34 minutos.

Não parou por ali. Figo foi atingido no rosto e quase armou uma briga generalizada. O próprio Figo, tão louvado por sua técnica, deu uma cabeça em um holandês logo na sequência. Em outro momento, o refinado Sneijder empurrou Petit com força e de novo acendeu o isqueiro em um gramado com atletas com os nervos prestes a explodir.

Portugal tinha uma razão para apertar as caneleiras e mandar ver: a classificação diante da Holanda representaria a primeira ida da seleção às quartas de final de uma Copa do Mundo desde 1966, quando o país tinha como seu maior craque o “Pantera” Eusébio.

Pelo lado da Holanda, a razão para tamanha animosidade se devia ao duelo decisivo entre as duas seleções na Eurocopa de dois anos atrás – disputada em Portugal, em 2004, a competição contou com o triunfo da seleção da casa diante da Holanda na semifinal, com um 2×1 que é muito lembrado até hoje na “Terrinha”.

 

Por que não houve fair play?

Partidas tão agressivas não costumam fazer parte do futebol moderno, com tantas câmeras prontas para gerar tantas punições. O que desencadeou a animosidade logo de cara foi a tática armada por Van Basten, que deu a entender que a Holanda precisaria tirar Cristiano Ronaldo de campo de qualquer jeito. O atacante português recebeu um carrinho desleal de Van Bommel ainda nos primeiros instantes – pouco depois, ele realmente não resistiu à segunda pancada, desta vez desferida por Bouhlarouz.

Foi Portugal, porém, o primeiro a ter um jogador expulso – Costinha, que cortou um passe com a mão, aos 46 do primeiro tempo. Os outros momentos de atletas excluídos foram na segunda etapa, aos 17min, com Bouhlarouz, aos 32min, com Deco, e aos 48min, com Van Bronckhorst.

Uma mera curiosidade estatística que serve para colocar as coisas nas devidas referências: a quantidade de 16 cartões amarelos soma também as expulsões que foram geradas por dois amarelos. Não houve nenhum cartão vermelho direto – embora isso quase tenha ocorrido.

Portugal abriu o placar ainda aos 23 do primeiro tempo, com Maniche, e controlou a partida. Na segunda etapa, aos 26, a Holanda simplesmente deixou de devolver uma bola mandada para fora pelos portugueses para atendimento ao goleiro Ricardo. O zagueiro holandês Heitinga, que acabara de entrar, aproveitou o descuido dos portugueses, que ficaram de mãos vazias à espera do “fair play” holandês. Com ele partindo disparado ao ataque, Deco acertou um carrinho forte por trás, começando nova troca de agressões até mesmo entre os treinadores. O juiz russo Valentin Ivanov mostrou “só” três amarelos depois da confusão, permitindo que a partida enfim terminasse com o número mínimo de atletas em campo. No futebol, um time jamais pode ficar com menos de sete homens em campo.

 

Portugal 1×0 Holanda – oitavas de final da Copa de 2006

Domingo, 25 de junho

Portugal – Ricardo, Miguel, Fernando Meira, Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Costinha, Maniche, Luís Figo (Tiago), Deco, Cristiano Ronaldo (Simão Sabrosa), Pauleta (Petit). Técnico: Luiz Felipe Scolari      

Holanda – Edwin van der Sar, Khalid Boulahrouz, Joris Mathijsen (Rafael van der Vaart), Andre Ooijer, Giovanni van Bronckhorst, Mark van Bommel (Johnny Heitinga), Phillip Cocu (Jan Vanegoor of Hesselink), Wesley Sneijder, Robin van Persie, Dirk Kuyt e Arjen Robben. Técnico: Marco van Basten

Gol: Maniche, aos 23min do 1º tempo

Cartões amarelos: Maniche, Petit, Luís Figo, Deco, Ricardo, Costinha, Nuno Valente, Mark van Bommel, Khalid Boulahrouz, Giovanni van Brockhorst, Wesley Sneijder e Rafael van der Vaart
Cartões vermelhos: Costinha, Deco, Khalid Boulahrouz e Giovanni van Bronckhorst

Local: Frankenstadion, em Nuremberg
Árbitro: Valentin Ivanov (RUS)
Público: 41.000 espectadores