O elenco, o projeto e o liquidificador de Jorge Sampaoli no Santos
Apresentado na última terça-feira como o novo técnico do Santos , com um contrato para duas temporadas – após o protocolar “charminho” para valorizar ainda mais sua já bastante valorizada chegada – Jorge Sampaoli mostrou durante a entrevista coletiva que está preparado para comandar a equipe da Vila Belmiro, que sabe por onde começar a entender o futebol brasileiro e – acima de tudo – como implantar no Peixe uma filosofia que vá na contramão da moda de “deixar a bola com o adversário” que tomou conta do futebol tupiniquim. O entendimento de Sampaoli sobre o futebol tem mais a ver com o que pensava Parreira (quem diria!) que em 1994 já dizia (numa livre-adaptação): “se a bola está conosco, menores são as chances de tomarmos o gol” – uma afirmação que é por si só de uma obviedade constrangedora. Quase tão constrangedora quanto o bendito liquidificador que entregaram para Sampaoli em sua apresentação.
Seria o presente uma referência àquilo que os clubes brasileiros costumam fazer com seus técnicos?
A escolha pelo Santos
Em sua primeira coletiva como técnico do Santos, Jorge Sampaoli esclareceu alguns pontos à respeito de sua escolha pelo time da Vila Belmiro. “Depois de analisar vários projetos de futebol, apareceu o Santos. Creio que aqui tenho muito para fazer e muito para desfrutar de jogadores com as características do futebol brasileiro”, disse sobre sua opção de vir para o futebol brasileiro e lembrou das sondagens que recebeu após sua passagem pelo Chile quando foi procurado por Flamengo, Cruzeiro, São Paulo e o próprio Santos. “Mas senti que esse era o momento. Isso me obriga, pelo carinho da torcida quando apenas cheguei, a estar à altura dessa instituição extremamente respeitada em todo o mundo”.
Elenco e estilo de jogo
O treinador não escondeu que vê como seu principal problema no início de trabalho a perda de Gabriel, o Gabigol, que retornou à Inter de Milão e poderá atuar no Flamengo em 2019. Como “solução imediata”, o técnico revelou seu plano de adaptar a equipe para que Rodrygo e Bruno Henrique sejam as referências ofensivas. Com relação ao elenco como um todo, disse que analisou muito, “coletivamente e individualmente o plantel do Santos no último ano. Creio que temos muita coisa para aproveitar, características individuais. Temos que potencializar algumas zonas para melhorar nosso sistema de jogo”. E esclareceu o pensamento completando com: “as táticas podem ser muito modificadas, mas o estilo é estar bem marcado. Tudo está vinculado com a bola, hoje tenho visto que, nos últimos tempos, salvo algumas equipes, muitas não querem a bola. Vamos tentar fazer com que a bola seja nosso maior argumento para defender e atacar”.
Mi Buenos Aires querida
Sampaoli também não se esquivou de falar sobre sua fracassada passagem como técnico da Seleção Argentina na última Copa do Mundo – onde foi eliminada nas oitavas de final pela França após classificar-se na bacia das almas da fase de grupos. Disse o treinador que: “Em relação ao meu momento na Argentina, sabia que seria muito difícil, que era uma oportunidade de dirigir a seleção de meu país. Não aconteceu como esperado, mas hoje é o momento de pensar no Santos. Não mais no Sevilla, Chile ou Argentina, mas no Santos”.
O técnico também disse, quando perguntado, que respeita, por conta das conquistas, o trabalho de Tite e Felipão dentro do cenário de técnicos brasileiros, mas que considera “anticultural” o modo como armam suas equipes – numa clara referência ao estilo de jogo adotado pelos “professores”.
É por conta desta “diferença cultural” que a chegada de um técnico estrangeiro de primeiro escalão ao futebol brasileiro é benéfica. O comando dos nossos times é muito fechado no mercado interno, mas, por mais que batam no peito e digam que os técnicos brasileiros são muito bons, a verdade é que não há vagas para eles nos principais mercados do mundo. A Europa não contrata técnicos brasileiros como contrata argentinos, por exemplo. Brasileiros são, quando muito, cotados para o mundo árabe, o futebol chinês e o japonês. Sempre longe dos principais centros.
Se tiver tempo para trabalhar, Sampaoli poderá gerar frutos muito além do que produzir com o Santos dentro de campo; arejando o ar fora dele.
E o liquidificador?
E para quem ainda se pergunta “que diabos foi aquilo de dar um liquidificador de presente pro sujeito?”, vamos lembrar que Sampaoli está de mudança para o Brasil. Precisará montar seu apartamento e, saudável que é, precisará preparar suas vitaminas e shakes ao som dos grandes clássicos do rock argentino que dominam sua playlist no Spotify. Nada mais lógico que o patrocinador mostrar toda sua preocupação com a saúde e a rápida adaptação do treinador ao Brasil poupando-o de entrar num site de varejo qualquer para comprar seu liquidificador.
Ô povo mal-humorado que vê defeito em tudo…
Se bem que… não há nada mais brasileiro do que esperar pela “roleta da entrega” das compras on-line no Brasil…