Por que a vitória de Marlon Moraes contra José Aldo no UFC 245 rendeu polêmica?
Depois de muita desconfiança, justificada pela aparência física assustadora rumo ao peso galo, José Aldo mostrou que sim, ele pode lutar em alto nível na categoria. ate 61,2kg. Diante de Marlon Moraes, atual número um no ranking oficial da divisão, Aldo não só fez luta dura e apertada no UFC 245, em Las Vegas (EUA), como só perdeu na decisão dividida dos juizes. Com uma atuação agressiva como não se via há tempos, o brasileiro cercou Marlon durante os 15 minutos , teve bons momentos na luta, mas pecou apenas pela falta de contundência. Marlon foi clínico, se movimentou bem e não desperdiçou golpes. Talvez por isso a impressão que tenha ficado foi de um resultado polêmico no evento, quando a verdade é que o triunfo poderia ter ido pra qualquer um dos dois lados e ainda assim seria justo.
Aldo foi mais agressivo, andou mais pra frente, mas conectou golpes menos fortes. Marlon teve mais efetividade. Logo no primeiro ato da luta, Marlon acertou um chute alto de esquerda que balançou Aldo. Foi quase um Dejá Vu do que Marlon fez com Jimmie Rivera, mas o Aldo se recuperou bem. Com exceção do primeiro round, que na minha opinião foi pro Marlon por conta dos golpes mais fortes, o segundo e o terceiro assalto poderiam ir pra qualquer um dos dois.
Foi bonito de ver Aldo indo pra cima, sorrindo, gostando da luta, mas também por mais que Marlon tenha perdido potência nos golpes já no segundo round, ele se movimentou bem demais. Não deixou o Aldo ficar confortável em relação a distância. Pra vocês terem uma ideia do quanto a luta foi apertada, ao todo, Marlon Moraes conectou 59 golpes significativos, enquanto Josê Aldo conectou 58. Enquanto Marlon teve vantagem pequena em número de golpes conectados no primeiro e no terceiro round, a vantagem de Aldo foi maior no segundo assalto.
A verdade é que a luta poderia ter ido pra qualquer um dos dois. Não cabe choro. Eu vi vitória do Marlon por ter acertado os golpes mais fortes da luta, mas diante da agressividade, controle no octógono e por ter andado muito mais pra frente, acharia absolutamente normal a vitória do José Aldo. Eu continuo sem entender o por que do Aldo não investir mais nos chutes. Em diversos momentos na luta, ele podia ter soltado a perna e ter variado suas combinações pra “somar pontos” com os juízes, mas ele focou no boxe e em algumas joelhadas voadoras esporádicas.
Foi uma performance enorme do Aldo. Mesmo com 33 anos e jovem ainda pro MMA, Aldo tem mais de 15 anos de carreira e voltar a lutar como peso galo depois de mais de uma década já foi uma vitória. Agora, performar em alto nível contra um cara como o Marlon e fazendo uma luta empolgante como essa é uma vitória maior ainda, independente do resultado oficial.
Adoraria ver uma revanche entre os dois, de preferência de cinco rounds e na luta principal de um evento no Brasil. Embora muita gente não goste de ver Brasil x Brasil no octógono, Aldo e Marlon deram um show e deixaram o torcedor brasileiro orgulhoso.
É compreensível a polêmica por trás do resultado. É difícil engolir uma derrota quando se é o cara que mais buscou a luta, mais andou pra frente e mais controlou as ações como no caso de Aldo. O Marlon chegou a ser vaiado em Las Vegas depois do resultado e o Aldo, é claro, mostrou sua frustração. Mas mesmo assim ao invés de chutar o balde e sair choramingando, o brasileiro engoliu o resultado e ainda teve humildade pra exaltar o trabalho de Marlon, que merece créditos também. Ele andou pra trás, mas contragolpeou melhor e acertou os golpes mais duros.
Repetindo: a vitória do Aldo seria tão justa quanto foi a do Marlon, mas exatamente por conta do quanto a luta foi parelha que não dá pra reclamar muito.
O Marlon ainda não quer falar de cinturão e pediu lutas contra Dominick Cruz ou Aljamain Sterling, enquanto o Aldo, na minha opinião já virou Top 5 da categoria dos galos, pode tranquilamente lutar em alto nível na divisão. Não há demérito algum em perder da forma que foi a luta contra o Marlon e o caminho rumo ao título nos galos continua mais curto do que nos leves ou nos penas.