A polêmica vitória de Jon Jones contra Dominick Reyes no UFC 247
Nunca uma vitória de Jon Jones no octógono foi tão polêmica quanto no UFC 247. O campeão dos meio-pesados manteve o cinturão com um triunfo na decisão unânime dos juízes, mas grande parte do público, dos especialista e este que vos fala discordaram do resultado do duelo ocorrido em Houston, Texas (EUA). Embora tenha sido uma luta boa, Jones só acordou nos últimos dois rounds, enquanto Reyes foi melhor nos três primeiros. Um 3 a 2 claro que nenhum dos três juízes laterais enxergou.
Reyes caiu de produção no fim da luta? Sim. Isso apaga o que ele fez nos três primeiros rounds? Não. Por mais que moralmente seja mais impressionante um lutador arrebentar nos rounds finais, não existe regra oficial que justifique a vantagem a favor do lutador que terminou a luta por cima. Cada round é julgado separadamente.
Dominick venceu claramente os três primeiros rounds e Jones venceu com facilidade os dois últimos. O round mais dominante dos très foi o quinto, a favor de Jones, mas não chegou a ser um 10-8. E mesmo que fosse, seria o caso de um empate, e não de uma vitória do campeão.
No caso do round dois e très, que foram os rounds que os três juízes discordaram a favor de Jones, não tem muito argumento que sustente a vitória do campeão. Prova é o discurso de Jones após a luta. Em nenhum momento ele diz ter enxergado sua vitória em très rounds. Ele só cita o quarto e quinto rounds que foram indiscutíveis, mas usa argumentos que contemplam sua postura durante os 25 minutos. As quedas aconteceram no quarto e quinto rounds, esses ele ganhou e pronto. Mas em nenhum momento ele argumenta vitória em um dos três primeiros rounds, porque simplesmente não tem muito espaço pra discussão.
E se argumentos não forem o suficiente, vejamos os números da luta. Segundos o UFC.com, no primeiro round, Jones conectou 17 golpes significativos contra 23 de Reyes. No segundo, foram 22 contra 33 a favor de Reyes e no terceiro round, novamente vantagem de Reyes, com 26 contra 19. Nos últimos dois rounds, vantagem de Jones com 20-13 e 26-21. No total, foram 116 golpes significativos de Reyes contra 104 de Jones.
Quando um round tem tamanha diferença de golpes significativos, não deixa margem pra dúvida. Quando a margem é pequena, aí dá pra avaliar a contundência, que pode ou não fazer a diferença. Mas Dominick Reyes teve vantagem de seis golpes a mais no primeiro round, 11 a mais no segundo e sete golpes a mais no terceiro. Mais claro impossível.
Sim, as quedas de Jones têm seu valor. Você não ficar só trocando porrada é uma forma de mostrar versatilidade, assim como é também uma forma de acusar o golpe, usar um plano B quando vocé tá vendo o “caldo entornar” de pé. E mesmo assim, as quedas de Jones aconteceram no quarto e quinto rounds.
Mas não custa lembrar: a luta é julgada round por round. O que Jones fez no quarto e quinto rounds não deve influenciar no que ele fez no primeiro, segundo ou terceiro rounds. Não é assim que funciona.
Eu já falei aqui que acredito muito naquela máxima de que pra tirar o cinturão do campeão você não pode deixar dúvida. Mas nesse caso, na minha opinião, não há duvidas. A dúvida existe quando existem rounds muito apertados, parelhos, como já aconteceu antes nas lutas do Jones. Mas não foi o caso. Diferente de outras vezes, dessa vez eu não achei a luta apertada o suficiente pra achar que podia ir pra qualquer um dos dois lados. Achei um claro 3 a 2.