McGregor tem alguma chance contra Mayweather?
Duelo-sátira serve, afinal, para “limpar a barra” de Mayweather depois da sua contestada vitória sobre Pacquiao
O dia 26 de agosto da histórica noite de Las Vegas está se aproximando, e com ele vem também uma enxurrada de notícias e conjecturas sobre a luta que envolve o boxeador Floyd “The Money” Mayweather e a estrela do UFC Conor “Notorious” McGregor.
Os fãs do boxe no Brasil apontam que este é o confronto de maior interesse no país desde 2015, com a vitória de Mayweather sobre o filipino Manny Pacquiao.
Seria para tanto? É de se esperar uma luta, não um espetáculo?
Não dá para argumentar muito com quem desembolsa de R$ 6,7 mil a R$ 260 mil, valores que custam as entradas para o evento da T-Mobile Arena. Este público, evidentemente, quer (e paga bastante para) ver um confronto no mínimo interessante, mas é praticamente um delírio projetar qualquer interesse esportivo em um confronto destinado desde já a apenas aumentar as já muito gordas finanças de Mayweather e McGregor.
O irlandês, na verdade, só deve passar do primeiro assalto contra Mayweather se o boxeador permitir. Pode-se atacar a postura arrogante, exibicionista e totalmente desrespeitosa de Mayweather quando ele se põe como alguém tão pobre, mas tão pobre, que só tem mesmo o dinheiro para se auto afirmar em um mundo cada vez mais faminto e caótico. Mas ninguém pode negar que ele é mesmo um dos maiores boxeadores de todos os tempos. A sua inatividade sequer deve pesar em favor de McGregor. Mayweather parou de lutar por dois anos. E quando voltou, venceu sem dar chances ao “muy competente” mexicano Juan Manuel Márquez.
E estamos falando de dois boxeadores – algo que McGregor obviamente não é.
É realmente um desafio à lógica alguém isento apostar nas chances do irlandês, que fará sua estreia no boxe – e sob as regras da nobre arte, é bom deixar claro – justamente como um dos maiores nomes da modalidade em todos os tempos.
Faz lembrar Michael Jordan, maior jogador de basquete da história, passando vexame no beisebol. Ou outro Michael, o Schumacher, piloto mais vitorioso da F-1, andando muito atrás nas corridas de moto que decidiu participar depois de largar os carros.
Cada gênio em seu esporte.
E McGregor até pode ser considerado um, mas no UFC, jamais no boxe onde não tem carreira e não tem experiência, apenas mesmo uma boca aberta cheia de dentes – não esperando a morte chegar, mas sim para cuspir impropérios na direção do adversário, e aí está talvez a grande razão de McGregor e Mayweather, falastrões que são, combinarem que vão trocar golpes e insultos desta vez.
Mayweather é um dos grandes privilegiados pelos promotores desta luta. Ele quer “limpar sua barra” depois da luta contra Pacquiao. O americano fez de tudo para tratar o combate diante do filipino como uma nova “luta do século”, algo parecido com o que Ali e Frazier fizeram em 1974 no Zaire, mas tudo o que Mayweather x Pacquiao entregou foi uma horda de gente inconformada com os altos preços de ingressos e pacotes de TV sem um espetáculo à altura. A vitória de Mayweather foi apenas por pontos, é bom lembrar, em um combate muito equilibrado e que contou com um Pacquiao muito aquém das possibilidades. Ele estava com o ombro machucado. E mesmo assim não foi nocauteado.
GOLPE$
Estima-se que cada um ganhe para esta luta uma cifra na casa dos US$ 75 milhões (McGregor) e US$ 100 milhões (Mayweather). É de se imaginar que quem tem a total condição de finalizar o combate quando quiser, que é Mayweather, arraste a brincadeira por uns minutos a mais até acabar de vez com esta “superluta” que os mais críticos chamam de “superfarsa”.
Faz lembrar um pouco o que Muhammad Ali e Antonio Inoki toparam realizar em 1976, nos primórdios do MMA, quando o japonês passou a maior parte do tempo deitado e chutando as canelas de Ali. O combate terminou empatado. Mas só porque não foi disputado sob as regras do boxe. Se fosse, Inoki jamais teria chance alguma.
É este o ponto de Mayweather x McGregor. Se o boxeador fizesse sua estreia no UFC justamente contra McGregor – ou contra Jose Aldo, que fosse – ele teria alguma chance?
É claro que não. E é claro que McGregor não terá chance alguma contra Mayweather.
Boa sorte aos envolvidos. E aos que preferem as lutas de verdade, em cima do ringue em igualdade de condições, e não com troca de farpas infantis em um mundo já transbordando de falatório inútil, fica a dica: leve tudo como uma sátira.