Análise: O Inter está vermelho…de vergonha
Clube vive o maior vexame de um grande no futebol brasileiro moderno
É impossível uma equipe, por mais gloriosa que seja, viver só de glória. A lista de gigantes do futebol mundial que penaram nos campeonatos menores é igualmente gigante. Nem é preciso ir muito longe. Está na nossa cara. Corinthians, Grêmio, Flamengo e Palmeiras. Dos quatro primeiros que hoje comandam o Brasileirão, três passaram pela Série B nos últimos 12 anos: Grêmio, Corinthians e Palmeiras.
Passar pela Série B é uma coisa. Mas passar o vexame que o Internacional está passando é algo que realmente perfura o “orgulho gaúcho” e surpreende até o mais veterano torcedor.
O jogo que estragou de vez a relação entre a torcida e o Inter ocorreu no último sábado, no espetacular Gigante da Beira-Rio, que jamais viveu tarde tão triste e melancólica.
O Inter jogou mal mais uma vez e perdeu para o Boa Esporte. Com todo o respeito ao Boa e ao torcedor da equipe de Varginha – mas por grandeza de trajetória, não era nem para o Internacional enfrentar um clube assim, quanto mais perder.
E não há o que culpar. Jogo limpo, honesto, sem influência da arbitragem. Jogou. Perdeu. E como doeu.
A briga da torcida do Inter com a polícia foi o principal termômetro deste momento colorado que está realmente pegando fogo. Não é para menos. A equipe voltou a sair do grupo dos quatro times que subiriam à Série A.
Guarani, Juventude, América-MG e Vila Nova.
São, com justiça, os clubes que dominam esta Série B. E de novo com justiça, o Inter não está entre eles.
A quinta colocação do Colorado nem é o que mais assusta. Tudo bem, ela é decorrência do que vamos apresentar, mas um mergulho nos números do Inter na competição mostra uma equipe totalmente desequilibrada em tudo aquilo que compõe uma grande equipe.
E as grandes equipes hoje não precisam ser brilhantes, ter craques, inovar.
O mundo está tão repleto de conhecimento que é inclusive questionável aprender coisas novas. Basta melhorar a execução daquilo que já sabe.
E é exatamente esta a falha do Inter.
Começamos com o aproveitamento de pontos do clube: meros 52% em uma competição de Série B. O aproveitamento por si só é muito baixo. Esses 52% são os mesmos do Santos, o quinto colocado hoje na Série A, embora haja grande discrepância na efetividade dos que vêm à frente em cada uma das séries.
O Corinthians, ponteiro absoluto, acumula 88%. O Guarani, líder da B, carrega 67%. A B é mais equilibrada, óbvio. Até por isso, mais fraca e com maiores chances de o Inter se destacar – e o que ocorre é o contrário.
Hora de analisar o desempenho do ataque e da defesa. O Inter nas 11 rodadas até aqui marcou 13 gols – nem é preciso ser bom em matemática para saber que uma média pouco superior a 1 gol por jogo numa Série B parelha é sinal de dificuldades. O jogo jamais é aberto, o time não tem como se soltar se o placar está sempre apertado e a torcida está sempre impaciente.
Igualmente complicada é a situação da defesa, com os oito gols sofridos até aqui. É um número absoluto baixo, verdade, média de 0,7 por jogo. O problema é aplicar isso diante de um ataque tão raquítico – 1,1 gol feito por jogo, 0,7 gol sofrido. Impossível o torcedor ter paz e não explodir como no sábado.
A explosão tem outra razão específica que merece uma análise à parte.
O Inter é horroroso jogando em casa. Nem vamos falar da falta de funcionamento da equipe, vamos analisar algo muito mais efetivo em termos de futebol. O Colorado jogou no seu espetacular estádio cinco vezes nesta Série B. E olhem o retrospecto: uma vitória, uma derrota e três empates. Apenas e tão somente seis pontos conquistados em cinco jogos.
É esta a grande chave da vergonha do Inter: o Beira-Rio é seu inimigo, e a equipe precisa de uma profunda reflexão para pôr em prática aquilo que até a grama do estádio sabe: time que não manda na sua casa não vai para a frente.
Tanto é verdade que a classificação da Série B, se contasse apenas com as partidas como mandante, hoje teria o Inter em uma 17ª colocação, caindo para a Série C.
Coragem, Colorado. Esqueça um pouco do seu passado, esqueça um pouco de todas as suas glórias, do Mundial em cima do Barcelona. Esqueça. Esvazie a cabeça, abra espaço ao novo, ponha o ferro na bota como se fosse um pequeno brigando pela comida no Gauchão. Hoje é isso o que a vida nos diz. Um dia somos grandes, no outro somos pequenos. Se a instabilidade é inevitável, a vergonha é opcional, sabe?
Que sua nação fique vermelha de gritar gols e de alegria por sair deste sufoco – mas jamais vermelha de vergonha como agora.