Humor

Paixão Nacional: Mesa Redonda

Cerca de 5 minutos após Charles Miller trazer o futebol para o Brasil, surgiu o primeiro cronista esportivo: o seu Zé, que após ver o primeiro passe errado do jogo inaugural decretou, do alto de seu notório saber futebolístico, que “jogando assim, esses caras não vão ganhar nada e ainda podem ser rebaixados”.

“Rebaixados é um exagero seu”, retrucou seu Eleutério. “O jogo mal começou e eles têm time pra crescer até o final”, concluiu.

O debate dos dois vecchios estava tão interessante que o público prestou mais atenção neles do que no jogo propriamente dito – que, aliás, era desesperadoramente ruim. Nascia assim, antes do final do primeiro tempo, a primeira Mesa Redonda do Brasil.

De lá pra cá o formato evoluiu – mas não muito. Geralmente comandada com mão de ferro pelo seu apresentador, a boa Mesa Redonda precisa ter – não necessariamente nesta ordem:

  • um comentarista que não esconde seu time do coração e torce descaradamente em todas a intervenções que faz;
  • um ex-jogador (pra dar alguma credibilidade);
  • um jornalista da “velha-guarda” que lembra as escalações mais esdrúxulas (como a do 13 de Maio que tinha Dorgival; Cunha, Dunha, Zunha e Pedro – que foi negociado na temporada seguinte porque não rimava com os outros zagueiros – Emengardo, Pingo, Bolota e Azeitona; Peidorrêra e Adamastor);
  • um jornalista mal-humorado que torce pra um time da terceira divisão;
  • e 45 minutos ininterruptos de merchandising.

Mas desde o surgimento do formato, não há dúvidas de que a melhor parte é acompanhar a performance dos “jornalistas-torcedores”. Quem viveu nos anos 90 lembra-se do impagável Roberto Avallone apresentando o programa Mesa Redonda, da TV Gazeta. Simplesmente sensacional, com seus bordões, memória e a indisfarçável “palmeirise” – que, diga-se, nunca o impediu de criticar o clube quando diretoria e/ou time não iam nada bem.

E a ele juntam-se tantos outros – profissionais sérios, sim, mas também torcedores que não escondem seus clubes do coração – como os corintianos Juca Kfouri e Benjamim Back, o sãopaulino Victor Birner, o palmeirense Mauro Beting e o fiel torcedor da Lusa, Flávio Gomes.

Definitivamente, seu Zé e seu Eleutério ficariam orgulhosos e aplaudiriam de pé – depois de reclamar da falta de entrosamento dos integrantes da mesa, é claro.