Paixão Nacional: o goleiro, o apelido e a imprensa
Em meio a jogos das eliminatórias da Copa do Mundo, goleada do Grêmio em cima do Sport e as semifinais da Primeira Liga, um outro assunto que gerou – e ainda gera – bastante falatório quase passou despercebido: a “brincadeira” que o jornal Extra, do Rio de Janeiro, fez com o goleiro Alex “Muralha”, do Flamengo, na última sexta-feira após o rubro-negro ter sido eliminado pelo Paraná nas quartas de final da Primeira Liga nos pênaltis.
Escreveu o jornal em um comunicado em sua capa:
“Em nome da precisão jornalística, o leitor do EXTRA não encontrará, a partir de hoje, a palavra Muralha relacionada ao senhor Alex Roberto Santana Rafael. Provável titular do Flamengo na final da Copa do Brasil, Alex Roberto, o ex-Muralha, mais uma vez desmoralizou o vulgo, levando um frango no jogo contra o Paraná pela Primeira Liga. Além de ter errado 100% dos lados nas cobranças de pênalti, completando 545 dias sem defender uma penalidade. Também em nome da precisão jornalística, o EXTRA se compromete a rever a sua decisão caso Alex Roberto, o ex-Muralha, volte a fazer por merecer”.
O jornal, claro, levou pedradas de todos os lados – não sem razão –, e, embora trabalhe seu conteúdo dentro de um registro humorístico, exagerou no tom ao colocar a piada em sua capa.
“Piada”, sim. Quanto a isso não há o que se discutir.
No momento em que um goleiro – posição extremamente delicada no futebol e que pouca margem dá ao erro – assume um apelido “Muralha” em seu nome, ele precisa ter a consciência de que as inevitáveis gozações virão quando a fase não for boa. E a fase de Alex Muralha não é boa há bastante tempo – tanto que o Flamengo foi buscar Diego Alves para assumir a titularidade do gol.
O tom foi exagerado, mas a piada foi óbvia. Assim como foi óbvia – e igualmente exagerada – a reação do Flamengo que declarou não mais permitir a presença de jornalistas do Extra cobrindo o clube até que uma retratação seja publicada.
De todo modo, o que o Extra fez pode ser a motivação que faltava a Muralha no primeiro jogo das finais da Copa do Brasil nesta quinta-feira, contra o Cruzeiro. Talvez a raiva com a brincadeira exagerada faça Alex encontrar-se novamente no gol rubro-negro e, quem sabe, voltar a fazer jus ao seu apelido.
Afinal de contas, de muralha destruída, basta a de Game of Thrones.