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O que Rose Namajunas, TJ Dillashaw e Georges St-Pierre nos ensinaram no UFC 217

Foto: Divulgação/UFC

Eu sei que o UFC 217 passou, mas precisamos falar mais dele. Assim como escrevi na coluna sobre o retorno histórico de Georges St-Pierre, que se tornou campeão dos médios ao finalizar Michael Bisping em Nova York (EUA), devo lembrar mais uma vez que o evento representou uma vitória do esporte. Em diversos sentidos. E o principal deles foi o triunfo do que acontece dentro do octógono diante do que é prometido fora dele. As três disputas de cinturão do show, combates principais da noite, se encerraram com os campeões, personagens mais provocadores, falastrões e confiantes, derrotados.

E para ilustrar meu ponto de vista vou relembrar cada caso:

 

Joanna Jedrzejczyk Vs Rose Namajunas

O duelo válido pelo peso-palha feminino não tinha tanta expectativa quanto os outros duelos. Não havia rivalidade e, no papel, não era um confronto competitivo. Afinal, Joanna era uma campeã dominante, invicta e não passou sufoco contra nenhuma das cinco desafiantes que encarou até o UFC 217. Até que chegou Rose Namajunas. Com um cartel sem muito prestígio de seis vitórias e três derrotas, a americana não tinha nenhuma vitória ou performance expressiva que lhe inspirasse confiança. Mas enquanto Joanna exercia suas provocações e intimidações, algo comum antes de suas lutas, Namajunas esbanjava indiferença e frieza. Dentro do octógono, sim, Rose explodiu e descarregou sua energia na apresentação épica que lhe rendeu um nocaute inimaginável no primeiro round contra Jedrzejczyk. Após a luta, a nova campeã peso-palha feminino do UFC ainda brilhou em um discurso em que critica o ódio despejado por alguns atletas durante as promoções das lutas e pediu valorização ao código das artes marciais, que exaltam respeito e honra ao próximo.

 

Cody Garbrandt Vs TJ Dillashaw

O duelo de maior rivalidade do UFC 217 contou com Garbrandt e Dillashaw frente a frente. Ex-companheiros de treinos, os dois trocaram diversas provocações. TJ não foi santo e ficou quieto, mas o fato é que Cody foi o lado mais agressivo, incansável e pegou mais pesado que o rival, chegando a divulgar nas vésperas da luta um vídeo antigo de um nocaute que aplicou no ex-amigo durante um treino. Palavrões, ofensas e ameaças foram disparadas por Cody durante os meses de promoção para a luta. TJ até tentou não responder, mas o fez para se defender, mesmo assim num tom muito mais aceitável. Resultado? Nocaute de Dillashaw no segundo round. Nem sempre levar a luta para o lado pessoal funciona. Poucos lutadores conseguem deixar emoções do lado de fora do cage.

 

Michael Bisping Vs Georges St-Pierre

Um dos pioneiros no estilo falastrão de ser e promover lutas, Bisping apresentou uma versão ainda mais perturbadora diante de GSP. O inglês provocou de todas as formas. Debochou da idade, da forma física e até do psicológico de St-Pierre. O astro canadense, que não leve muito jeito para essa troca de provocações, até que tentou rebater na mesma moeda, mas algumas vezes era até constrangedor vê-lo sem graça. Dentro do octógono, uma grande luta, emocionante, que se encerrou com uma finalização no terceiro round e coroou St-Pierre como novo campeão dos médios. A “cereja do bolo” chamado UFC 217 foi a glória de um ícone que consegue ser tudo aquilo que muitos tentam. St-Pierre é um fenômeno de audiência, mas não precisa ofender, provocar ou diminuir seus rivais. Ele chegou a esse nível – e o elevou no último sábado (4) – fazendo apenas o que sabe: lutar.

 

O que esses três exemplos nos dizem? Ainda há espaço e chance para a esportividade em um mundo das lutas tão dominado pelo entretenimento. É legal e divertido ver uma troca de provocações, mas quando ela passa dos limites, deixa de ser saudável e não contribui em nada para a imagem do esporte. A contribuição que as vitórias de Rose Namajunas, TJ Dillashaw e Georges St-Pierre tiveram para o futuro do MMA é algo incalculável.

Em tempos onde o entretenimento, as provocações e a pose são artifícios que elevam os lucros financeiros, interesse público e muitas vezes até amedrontam e intimidam rivais, foi bonito de se ver três representantes do MMA mais interessados em praticarem apenas o esporte terminarem a noite com o braço erguido.

Que sirva de lição!