O Grêmio que reclame à vontade: o Corinthians é sim o melhor time do Brasil
Entrar no campo da hipótese é perigoso e desmerece este brilhante heptacampeão Corinthians
Já começou. O Corinthians mal terminou de descer a taça do Brasileirão que acabou de erguer, mas vários torcedores “do contra” plantam dúvidas sobre se este Corinthians campeão é a melhor equipe do Brasil. O raciocínio é complexo. Dizem que o Grêmio só não conquistou o Brasileirão por estar envolvido na Libertadores da América, e que se a Libertadores fosse disputada como nos anos anteriores, terminando ali por agosto, não haveria chances de o Corinthians ficar com a taça no lugar do Grêmio.
Só que não, como dizem os mais novos.
O Corinthians foi sempre superior
É preciso realmente uma habilidade tremenda para retorcer os números e tentar tirar o mérito deste Corinthians que ergueu o Brasileirão com três rodadas de antecedência. Três. Enquanto todas as outras equipes poderiam contar com 38 jogos para somar pontos, o Corinthians fechou a sua conta com 35. Poderia dar WO nas três partidas finais que não aconteceria nada.
Não há mesmo o que questionar.
Não houve time que ganhou tanto (21) e perdeu tão pouco (apenas 6) como este Corinthians. O ataque foi sucinto como raras vezes se viu, é verdade: este Corinthians marcou “apenas” 48 gols, contra 53 do Palmeiras, o melhor ataque da competição. Mas a contrapartida à dianteira um pouco modesta é aquela que talvez seja a melhor defesa da história dos pontos corridos, com espetaculares 24 gols sofridos em 35 rodadas.
Como querer tirar a faixa de “melhor time do Brasil” de um time que sofreu uma média de 0,68 gols por jogo na competição que é tida como uma das mais complicadas do mundo por conta da dureza dos adversários e da grande quantidade de candidatos ao título?
Como plantar tal dúvida se o Grêmio não marcou sequer um gol neste Corinthians, perdendo por 1×0 e empatando por 0x0 nos dois confrontos diretos?
Oportunismo: a virtude deste Corinthians
Não precisa ser muito letrado em futebol brasileiro para saber que a bola no pé praticada profissionalmente por aqui é caracterizada por um perde-e-ganha sem fim. São poucas as equipes que conseguem manter sequências sem perder. Houve um certo momento no returno em que o time que tinha mais partidas “invictas” somava apenas duas rodadas sem conhecer a derrota.
Foi este o padrão que o Corinthians soube reverter.
O time fez um primeiro turno espetacular e abriu uma distância tranquila – e que foi certamente levadamente em consideração na hora de enfrentar os rivais que estavam mais atrás e que precisavam dos pontos que o Timão havia conquistado. E fica também a dúvida: o Corinthians não deu uma “milongada” tipicamente argentina para poupar energias e se concentrar para a arrancada fulminante coroada com o título na noite desta quarta (15)? É mais uma possibilidade que não tira nada do mérito de Fábio Carille e seus comandados.
Já o Grêmio…
A falácia que sugere a soberania gremista no futebol brasileiro não resiste a muitas análises. Que “melhor time do Brasil” é este que sequer chegou à final do Gauchão, conquistado pelo Novo Hamburgo? Onde estava esta capacidade toda ao ser eliminado pelo Cruzeiro na Copa do Brasil? Ser eliminado em mata-mata é a coisa mais normal do mundo. O anormal é fantasiar superioridades onde não existem. Se o Grêmio fosse esta máquina toda, não estaria abrindo a segunda quinzena de novembro sem nenhum título conquistado até aqui – ao contrário do Corinthians, que soma o Paulistão ao seu troféu de Brasileiro, ou o Cruzeiro, merecido campeão da Copa do Brasil.
O mais engraçado no choro gremista é a pouca memória em lembrar a inevitável queda das equipes brasileiras que foram bem nas últimas Libertadores.
Se elas são campeãs, como o Atlético-MG e o Corinthians, em 2013 e 2012, respectivamente, usam o Brasileirão como “treino de luxo” para o Mundial de Clubes do fim do ano.
Se tais equipes passam perto e terminam com o vice, por exemplo, como o Fluminense do próprio Renato Gaúcho em 2008, correm risco até de rebaixamento, tamanha a depressão pós-Libertadores.
Só há um único exemplo de time que brigou com força tanto pela Libertadores quanto pelo Brasileiro: o São Paulo de 2006, vice no torneio continental, perdendo uma apertadíssima final contra o Inter na qual poderia ter sido perfeitamente o campeão. O título foi uma questão de meses. No fim do ano, a equipe conquistou o Brasileirão.
Mas aquele São Paulo não é este Grêmio. Era uma equipe brilhante – que não à toa conquistou os dois Brasileiros dos anos seguintes.
O Grêmio precisa se limitar a fazer aquilo que realmente sabe como poucos clubes no Brasil: batalhar as divididas e ser oportunista (como, aliás, foi este Corinthians). Que não se ache o “melhor time do Brasil, não fosse o calendário”. Pensar nisso por mais de dois segundos já é uma vantagem para o sanguinário Lanús, que é o favorito – e por que não? – a este título de Libertadores, especialmente por decidir a Copa em casa.