Cyborg fica pra trás, e Rousey pode sonhar com feito de McGregor
Na última semana, escrevi sobre o golaço que o Ultimate marcou ao anunciar que a categoria peso pena feminino seria criada e o quanto Cris Cyborg merecia a oportunidade de ser campeã da companhia após tantos anos no topo do esporte. Mas, não só para a minha surpresa como para a de todos, o UFC simplesmente anunciou que a primeira luta da divisão também será a disputa de cinturão da categoria. Ah, um detalhe: Cyborg não foi escolhida para a estreia.
Também semana passada comentei a difícil relação entre Dana White e Cyborg. O presidente do UFC revelou ter oferecido duas disputas de cinturão para a brasileira, mas nenhuma delas foi aceita – Cyborg alegou enfrentar uma “depressão grave”. Pelo visto, o mandatário não quis mudar os planos da franquia e esperar pelo retorno da ex-campeã do Invicta FC. Ele decidiu inaugurar a divisão mesmo sem a brasileira. Resultado? Holly Holm e Germaine Randamie vão se enfrentar pelo título inaugural do peso pena feminino no dia 11 de fevereiro, pelo UFC 208, em Brooklyn, Nova York (EUA).
Holm vem de duas derrotas consecutivas na carreira. Desde que nocauteou Ronda Rousey, em novembro do ano passado, a americana foi finalizada por Miesha Tate, perdeu o cinturão peso galo feminino do UFC e depois foi superada por Valentina Shevchenko na decisão. Randamie vem de duas vitórias consecutivas, mas a última vez que atuou como lutadora da categoria peso pena foi em 2012. Ou seja: diante da “demora” de Cyborg – que declarou ter pedido apenas mais duas semanas de paciência ao Ultimate – em embarcar no navio que aparentemente precisava partir, o UFC forçou uma disputa de cinturão inesperada para iniciar logo os trabalhos em uma divisão que inicialmente só havia sido criada para coroar o trabalho da brasileira.
O show tem que continuar, é verdade, mas Cyborg merecia mais do que qualquer outra lutadora fazer parte da luta de estreia da divisão. Principalmente em se tratando de uma disputa de título. Ela é a maior peso pena da história do MMA, está invicta há dez anos e já se sacrificou duas vezes lutando em peso casado no octógono quando a franquia não tinha a categoria. É até justo discordar da ideia de que Cyborg merecia receber o cinturão sem pisar no octógono, assim como aconteceu com Ronda Rousey. Mas ela nem fazer parte da primeira disputa de título de sua categoria natural? É um absurdo. A organização pode alegar que ofereceu oportunidades à brasileira, o que é verdade, mas ainda assim não seria o fim do mundo atrasar os planos para a divisão por uma lutadora que é empolgante, gera audiência e tem brilho de campeã.
Como a organização não dá ponto sem nó, se Holm vencer e se tornar a primeira campeã da história do peso pena, o que é o provável, Ronda Rousey pode sonhar com uma unificação de títulos se bater Amanda Nunes no UFC 207, no dia 30 de dezembro e recuperar o título peso galo. Assim como Conor McGregor, ela teria a chance de deter simultaneamente dois títulos do evento. E nada melhor do que buscar isso contra a mulher responsável pela única derrota de sua carreira até hoje, certo? Seria uma despedida de cinema para a americana. Projetando… Campeã dos galos, se vingando de Holm e ainda somando o segundo título simultâneo? Essa possibilidade certamente agradaria qualquer presidente de organização.
Ronda pode se beneficiar dos novos tempos do UFC se tudo der certo e usufruir de uma oportunidade única. E Cyborg, que não costuma acatar calada as decisões do UFC, pode acabar ficando pelo caminho, seja pela falta de cooperação com as exigências da organização ou simplesmente pela disputa de espaço no topo da esporte diante do retorno de Rousey.
A grande questão é que a luta de Ronda Rousey no UFC 207 vai ser um indicador do que o futuro reserva para as lutadoras envolvidas. O cinturão peso pena feminino do UFC vai para as mãos de Cyborg. Isso é um fato, é só questão de tempo. A dúvida é se a brasileira será ou não mais uma vítima das prioridades da nova direção do UFC.