Corinthians surpreende, derrota o Palmeiras e conquista seu 29º Campeonato Paulista
Corinthians marca no primeiro minuto, aguenta a pressão palmeirense, vê a arbitragem se enrolar e nos pênaltis conquista o bicampeonato paulista – o primeiro do Timão após 35 anos.
Foram necessários 19 anos para que o Campeonato Paulista fosse, novamente, decidido em um Palmeiras e Corinthians e, pela primeira vez na história do confronto (em decisões), houve a virada. Derrotado por 1 a 0 no Itaquerão, o Alvinegro devolveu o placar ontem, fechou-se em seu ainda eficiente sistema defensivo, gastou o tempo e nos pênaltis viu a estrela de Cássio brilhar mais uma vez – a segunda nesta edição do Paulistão – que lhe permitiu levar para a casa seu 29º título de Campeão Paulista.
Gol Relâmpago
A história do título começou a ser escrita por Rodriguinho que no primeiro ataque do Timão, no primeiro minuto do jogo, aproveitou boa jogada de Mateus Vital, que passou por Antônio Carlos, invadiu a área e rolou para o meia – mais uma vez destaque do Corinthians na temporada – chapar de primeira e ver a bola desviar em Victor Luis, “matar” Jadson e morrer no fundo do gol palmeirense.
Com a vantagem que precisava no placar, o Timão fechou-se em suas “temidas” linhas de quatro e segurou a pressão do Palmeiras que em poucos momentos conseguiu furar o bloqueio Alvinegro.
William, por pouco
Em um desses raros momentos, aos 5 minutos, William aproveitou desvio de Thiago Martins para empatar de cabeça, mas a arbitragem, corretamente, anulou a jogada marcando o impedimento do atacante.
No mais, o primeiro tempo mostrou Lucas Lima sumido no jogo e o próprio William – tirando o lance acima – discreto na partida. Dudu era o único que tentava alguma coisa pela direita do ataque palmeirense, mas de modo pouco eficiente.
Ataque contra defesa
Com Keno no lugar de William, Roger Machado aumentou a pressão pra cima do Timão – mas não abriu mão de seguir com um volante de marcação (Bruno Henrique) quando precisava fazer pelo menos um gol. A partida virou uma espécie de “ataque contra defesa” com o Palmeiras cercando a área adversária e o Timão tendo dificuldades para encaixar um contra-ataque.
Até que aos 26 minutos aconteceu o lance que vai gerar reclamações pelos próximos 20 anos – mais até do que a expulsão de Jaílson na partida, ainda na fase de grupos, contra o Timão em Itaquera (derrota do Palmeiras por 2 a 0) – o (não) pênalti de Ralf em Dudu.
O árbitro Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza – que já era bem questionado em sua atuação pelos jogadores – apontou para a marca do pênalti no lance entre Ralf e Dudu. Enquanto os palmeirenses comemoravam como se fosse um gol (até hoje não entendo essa mania…), o 4º árbitro, Adriano Miranda, avisava (de acordo com a súmula do jogo) que o lance tinha sido limpo.
– Marcelo, para mim ele toca na bola. Mas a decisão é sua – teriam sido as palavras de Miranda, ainda de acordo com a súmula, após chamar o árbitro pelo rádio. Quando a TV mostra o lance por uma posição mais frontal, vê-se que Ralf toca mesmo primeiro na bola e depois, inevitavelmente há o choque com Dudu. O desarme, entretanto foi limpo.
Foram 7 minutos de jogo parado, com muito bate-boca e muito vai-e-vem de árbitros até que Marcelo de Souza mudasse sua marcação para cobrança de escanteio – o que, obviamente, revoltou a todos no Palmeiras e nas arquibancadas do Allianz Parque.
Que venham os pênaltis
Após este incidente, o Palmeiras “perdeu o rumo” e não ameaçou realmente o Corinthians. Ao contrário, quase tomou um gol de Sidcley em um contra-ataque – Moisés não conseguiu cortar a jogada – já no final do jogo. O lateral-esquerdo, entretanto, depois de dar um grande corte na zaga de Verdão, bateu cruzado e para fora.
Sem mais o que almejar, todos esperaram pelos pênaltis onde a estrela de Cássio – que já havia salvo o Corinthians na semifinal contra o São Paulo –, brilhou mais uma vez. Preciso, o goleiro Alvinegro defendeu os pênaltis de Dudu e Lucas Lima. Victor Luis, Marcos Rocha e Moisés marcaram em suas cobranças.
Pelo lado do Timão, Danilo, Romero, Lucca e Maycon converteram enquanto que Fágner chutou pra fora (muito pra fora, diga-se). 4 a 3 e Corinthians Bicampeão Paulista.
Campeão dos Campeões
Com 29 títulos estaduais na sala de troféus, o Corinthians é, disparado, o “campeão dos campeões” no Paulistão. Palmeiras e Santos, com 22 títulos cada, dividem o 2º lugar enquanto que o São Paulo aparece na 4ª posição com 21.
Carille em estado de graça
Em apenas 16 meses como técnico do Corinthians – sem levar em consideração o tempo como interino e nem o “tempo de casa” no Timão – Fábio Carille ergue seu 3º troféu: foram 2 Campeonatos Paulista (2017 e 2018) – o primeiro “bi”campeonato de verdade após 35 anos – e 1 Brasileirão (2017).
Com um time mais fraco que o da temporada anterior, sem um centroavante definidor como Jô e com poucas chances reais de conquistar a Libertadores ou o Brasileirão, Carille consegue um título que deverá lhe garantir paz com a torcida, independente dos resultados, pelo menos até o final da Copa do Mundo – o que é muita coisa para um treinador que assumiu o time cercado de desconfianças e prova-se, jogo após jogo uma grande realidade.
Desabafo
Ao término do jogo – em que o Palmeiras não ficou em campo para receber as medalhas e o troféu de vice-campeão –, o presidente do clube, Maurício Galiotte não escondeu sua revolta ao falar com a imprensa:
“Campeonato estragado, jogado no lixo. Respeitamos o adversário, mas ninguém precisa passar por isso. Nem Palmeiras nem Corinthians nem outros clubes. O que digo ao torcedor palmeirense é: esqueçam o campeonato. O Palmeiras é muito maior do que o paulistinha. Não vamos ficar preocupados com uma situação absolutamente vergonhosa. O que esse senhor fez hoje aqui foi uma vergonha”.
Em entrevista ao SportTV, Sheik manteve seu estilo e sem meias palavras desbancou o presidente do Palmeiras:
“Ele é um doente mental de falar uma coisa dessa porque ele acaba desmercendo todas as equipes que disputaram a competição, ele desmerece a Federação, aos atletas, funcionários de todas equipes. Acho que ele está equivocado”, afirmou.
E agora?
A exemplo de 2017, o Palmeiras investiu alto nesta temporada, se dá ao luxo de ter um meia talentoso que não pode usar (Gustavo Scarpa), tem 3 goleiros de Seleção Brasileira, 1 titular (Jaílson) e 2 no banco de reservas (Prass e Wevérton) e perdeu a primeira decisão do ano; deixou de ganhar o primeiro título da temporada. Mas isso não quer dizer que tudo está perdido.
Dono – ainda – de um dos melhores elencos do país, o Palmeiras concentra seus esforços agora na Libertadores – onde segue invicto – e na estreia do Brasileirão, na próxima segunda, dia 16, contra o Botafogo no Engenhão. Embora tenha perdido a decisão do Paulista, o time tem ambições maiores nesta temporada e deve manter o foco em chegar bem dentro das duas competições antes da pausa nos campeonatos para a realização da Copa do Mundo.
O Corinthians, por sua vez, deve continuar procurando por um centroavante que resolva a fragilidade ofensiva da equipe e se concentrar em fazer um bom Brasileirão – chances de título são poucas, mas o Timão pode muito bem garantir-se no G4 e fazer parte da Libertadores em 2019; porque na edição deste ano não deverá ir muito longe nos mata-mata.