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Michael Bisping anuncia aposentadoria do MMA e deixa legado especial no mundo das lutas

Foto: Divulgação / UFC

A primeira vez que vi Michael Bisping foi no The Ultimate Fighter 3, em uma das reprises do programa na TV brasileira, no canal FX, salvo engano. Era toda sexta-feira, na hora do almoço. O inglês era o personagem mais interessante daquela edição do reality show do UFC, lá em 2006. Parte do time treinado por Tito Ortiz, “O Conde”, como é conhecido no mundo das lutas, esbanjava confiança, era falastrão, arrumava confusão na casa e correspondia na hora da luta. Ele se tornou campeão daquela edição ao bater Josh Haynes por nocaute no segundo round. Ele foi o astro do programa que estrelava atletas meio-pesados. Depois do show, ele ingressou no Ultimate e ao se tornar um peso-médio iniciou uma carreira de respeito na maior organização de MMA do mundo. Nesta semana, Bisping oficializou sua aposentadoria do esporte após 14 anos que lhe renderam vitórias expressivas, derrotas dolorosas, rivais e provocações intermináveis com grandes nomes da modalidade e a conquista de um título mundial legítimo e histórico. O legado de Bisping é rico e não será esquecido facilmente.

Bisping começou no MMA em 2004. Ele venceu suas primeiras dez lutas, todas realizadas na Inglaterra, se tornando campeão meio-pesado do Cage Rage e depois do Cage Warriors, até que chegou ao The Ultimate Fighter 3, em 2006. Depois que venceu o programa, ele emplacou mais três vitórias como meio-pesado, até conhecer o primeiro revés da carreira, ao ser superado por Rashad Evans, no UFC 78, em 2007. Depois disso ele acertou em se tornar um peso médio. Ali ele começava a se tornar um dos atletas mais respeitados do UFC. Fazia lutas empolgantes, era sucesso na Inglaterra e seu estilo falastrão chamava a atenção do público. Não demorou muito até que ele se tornasse um dos lutadores com o maior salário da franquia.

Durante alguns anos, Bisping foi conhecido como aquele cara que era bom lutador, mas nunca seria campeão. Faltava alguma coisa. Por diversas vezes, ele se viu a uma luta de uma chance pelo título, mas sempre deixava a chance escapar por conta de uma derrota. Isso aconteceu, por exemplo, quando ele foi nocauteado por Vitor Belfort no primeiro UFC São Paulo, em 2013. Naquela época, até Anderson Silva o apontava como possível desafiante ao cinturão dos médios. Mas o inglês perdeu feio e seguiu seu caminho até que o destino decidiu que sua chance pelo título chegaria da forma mais inesperada possível. Em 2016, depois de bater Spider em uma das lutas mais polêmicas da história do Ultimate, ele foi convocado de última hora para substituir Chris Weidman e encarar Luke Rockhold em disputa de cinturão programada para o UFC 199, em Los Angeles (EUA). Era uma revanche. Depois de ser finalizado na primeira luta, Bisping deu show ao nocautear a marra e o excesso de confiança de Rockhold e se tornou campeão dos médios do UFC, mostrando ao mundo que aquele cara que ninguém acreditava muito, mas respeitava, enfim tinha alcançado seu sonho. Foi bonito de ver.

Como campeão, Bisping foi malandro. Evitou uma luta com Ronaldo Jacaré logo de cara e cavou uma revanche com o desafeto e atleta em fim de carreira Dan Henderson. Deu certo. Ele se vingou da derrota traumática sofrida no histórico UFC 100 com um triunfo na decisão dos juízes. Depois enrolou mais uma vez e evitou os tops da categoria, conseguindo o feito de encarar Georges St-Pierre em uma superluta válida pelo cinturão dos médios. Um duelo sem sentido esportivo, mas que atraiu grande atenção. Ele acabou apagado por GSP e perdeu o título. Os efeitos da “dormida”no octógono contra St-Pierre parecem ter durado até dias depois, quando Michael aceitou enfrentou o jovem Kelvin Gastelum. O resultado foi uma derrota com um nocaute assustador, daqueles difíceis de se ver. O inglês ainda especulou uma luta de aposentadoria após sua última apresentação , mas confirmou nesta semana em seu podcast “Believe You Me” que está pendurando as luvas.

No geral, Bisping venceu boas lutas e enfrentou muitos dos maiores nomes do MMA. Anderson Silva, Dan Henderson, Vitor Belfort, Luke Rockhold, Wanderlei Silva, Georges St-Pierre… Ele até conquistou alguns vitórias expressivas. Nocauteou Cung Le em uma luta sangrenta, derrubou Luke Rockhold de forma histórica para se tornar campeão , superou Anderson depois de um knockdown no terceiro round, bateu Hendo após ser derrubado duas vezes e aguentar lutar com o olho quase fechado… O inglês fez história quando venceu, mas quando perdeu… foi feio. E uma das derrotas que sofreu – aquela após um chute de Belfort na cabeça – que lhe rendeu um descolamento de retina que o acompanha desde 2013. Depois que perdeu para Gastelum, em sua última luta, o outro olho começou a dar sinais de incômodo. E isso pesou na decisão acertada do lutador.

Michael Bisping pode pendurar as luvas e deitar a cabeça no travesseiro no tranquilo. Seu lugar no Hall da Fama do UFC como um dos lutadores mais empolgantes da história está garantido. Que sua lição de perseverança na busca pelo cinturão e resiliência todas as vezes que seguiu lutando e não desistiu quando a situação era adversa sirva de ensinamentos para as futuras gerações.

No MMA, Bisping acumulou 30 vitórias e nove derrotas ao longo de sua jornada como lutador. Fora da luta, Bisping seguirá ativo como comentarista, apresentador de seu Podcast e vai dar mais atenção a sua carreira de ator de cinema, já iniciada anos atrás.

Michael Bisping foi de piada a campeão e ganhou o respeito do mundo das lutas. Isso é para poucos.