Análise: por que encarar a Bélgica ao invés do Japão é melhor negócio para o Brasil nas quartas de final
Contra o Japão, Seleção Brasileira teria um adversário com excesso de respeito e bem abaixo do nível dos demais; diante dos belgas, maior preocupação recai sobre o setor de Fagner
O Brasil foi soberano contra o México. O que faltou nos dois primeiros jogos foi justamente a síntese da vitória que levou a Seleção para as quartas de final: domínio sobre o adversário. Em nenhum momento, o time de Tite foi acuado ou o goleiro Alisson precisou “operar milagres”. Quando a retaguarda brasileira foi cercada, os “cavaleiros” Thiago Silva, um dos grandes nomes da Copa do Mundo de 2018, e Miranda protegeram a ponte do castelo. Agora, que venha a Bélgica, próximo adversário no caminho do título, às 15h (horário de Brasília) da próxima sexta-feira (06), na Arena Kazan.
Japão demandaria menos esforço, mas final antecipada na fase seguinte exigiria o contrário
Além do triunfo por 2 a 0 sobre os mexicanos, com gols de Neymar e Firmino, ontem (02), acompanhamos o triunfo dos belgas sobre o Japão com uma virada espetacular – após estarem perdendo por 2 a 0 no segundo tempo. Durante a partida, muitos torcedores brasileiros ficaram empolgados com a vantagem dos nipônicos, já que, em tese, era melhor pegar um rival mais fraco nas quartas de final.
Apesar de ambos não terem títulos mundiais, não dá para comparar uma seleção que alcançou 100% de aproveitamento na fase de grupos e que conta com um punhado de craques dos grandes centros europeus com um “time de formiguinhas” (no melhor sentido da coletividade na analogia) e que avançou às oitavas de final por ter levado menos cartões do que Senegal.
Fazendo um exercício de futurologia, um confronto diante dos nipônicos colocaria o Brasil contra um adversário menos qualificado do que todos os quatro que já enfrentou até aqui no Mundial. Claro que são hipóteses, mas é fato que a Seleção Brasileira só perderia para si. Se decidisse partir com tudo para cima do Japão desde o início, resolveria a parada já no primeiro tempo. Contra a Bélgica, o nível de atenção e transpiração serão maiores.
Bélgica nas quartas de final: mais prós e menos contras
Na próxima sexta (06), o Brasil irá se deparar com seu maior desafio desde o início da caminhada rumo ao hexa na Rússia. Os Diabos Vermelhos continuam com 100% de aproveitamento, quando o desempenho na primeira fase foi impecável. Contra o Japão, os belgas tiveram um pouco da apatia da Croácia diante da Dinamarca. E é justamente essa sensação de que o gol vai vir a qualquer momento que provoca a queda de muitos favoritos.
Mas falando sobre vantagens e cuidados, o lado ruim de encarar a Bélgica será o nível de comprometimento físico da Seleção, a ausência de Casemiro (suspenso) e a atenção mais que redobrada para impedir as investidas de jogadores excepcionais como Kevin De Bruyne e Eden Hazard. Na retaguarda, Thiago Silva e Miranda, que formam uma dupla tão boa quanto foi Aldair e Márcio Santos, até então a última grande zaga do Brasil em Copas, não poderão perder um minuto de caça contra Lukaku, um atacante que lembra muito o Imperador Adriano no quesito força.
Porém, quem realmente terá trabalho é Fagner. Contra os japoneses, as principais ações ofensivas da equipe belga eram tramadas pelo lado esquerdo. O lateral-direito do Corinthians precisará não só de cobertura como muita precisão e controle para evitar faltas em demasia e impedir, principalmente, que Hazard coloque a bola na área ou corte em direção ao meio para finalizar em gol.
França ou Uruguai? É preciso estar 110% ligado para vencer um dos dois
Historicamente, o Brasil se deparou com adversários de peso e, em muitos casos, fez verdadeiras finais antecipadas na etapa de quartas de final, quando a vitória serviu de arrancada rumo ao título. Quem não se lembra das batalhas contra a Holanda, em 1994, e a Inglaterra, em 2002? E o que dizer do jogaço contra a Dinamarca, em 1998 (quando perdemos só na decisão), em uma tarde mágica de Rivaldo?
Revisitando um passado mais longínquo, o placar de 4 a 2 não reflete o que foi a disputa contra o Peru na Copa de 70. Foi uma senhora partida de futebol, quando os peruanos eram regidos pelo saudoso mestre Didi. Em 1962, batemos o English Team por 3 a 1, enquanto que, em 1958, a classificação veio contra o País de Gales, pelo placar mínimo, com gol salvador de Pelé.
Por isso que precisamos chegar com “sangue nos olhos” diante da França ou do Uruguai – se passarmos pela Bélgica, logicamente. A Celeste é um de nossos maiores rivais, responsável pela dor e frustração da Copa de 50, mas que, desde então, só nos deixou com gosto amargo nas finais da Copa América de 1983 e 1995 – mas demos o troco em 1989 e 1999. Porém, na minha opinião, foi o selecionado que mais evoluiu de um ano para cá, quando o meio-campo subiu muito de produção com os “carrapatos” Torreira e Nandez. No entanto, os pilares continuam sendo o zagueiraço Godín e a dupla dinâmica Cavani e Suárez.
Sobre os franceses, não há muito o que dizer sobre nosso maior algoz em Mundiais. Tirando o show por 5 a 2, em 58, foram só insucessos: eliminação nas quartas de final, em 1986 e 2006, além da goleada sofrida na final de 1998. Portanto, 20 anos depois do 3 a 0, em Paris, chegou a hora de exorcizarmos esse fantasma? Mas isso é o de menos. O objetivo maior é o hexa, seja lá contra quem for. No entanto, veja a coincidência: há 60 anos, a vitória contra os Bleus foi justamente na semifinal. Bom presságio.