A polêmica por trás das chances pelo cinturão dadas a Aldo e Romero no UFC
Precisamos falar sobre a chance pelo cinturão que está sendo dada a José Aldo e Yoel Romero contra Henry Cejudo e Israel Adesanya, respectivamente. Os dois, embora sejam grandes nomes do MMA, acumulam duas derrotas consecutivas e a decisão da organização de promovê-los a luta pelo cinturão em suas categorias gera um debate que mais uma vez coloca em questão a força do entretenimento contra a esportividade no MMA. Ou seriam os casos de Aldo e Romero especiais?
Pra quem não viu, na semana passada, o Combate.com reportou que o UFC tava trabalhando pra promover Aldo x Cejudo como luta principal do UFC 250, dia 9 de maio, em São Paulo, no Ginásio do Ibirapuera. E também na semana passada, a organização anunciou oficialmente a disputa de cinturão entre Israel Adesanya e Yoel Romero para o UFC 248, dia 7 de março, em Las Vegas (EUA).
E aí naturalmente vem a pergunta: qual a lógica disso? Os caras vem de duas (!) derrotas consecutivas (Aldo perdeu para Alexander Volkanovski e Marlon Moraes, enquanto Romero perdeu para Robert Whittaker e Paulo Borrachinha) nas últimas lutas e vão disputar o cinturão do UFC?
Tudo bem que foram lutas apertadas, mas uma derrota é uma derrota. E esse caso gera até contradição. Se você não concorda com Romero pelo cinturão você também não pode concordar com Aldo x Cejudo. O caso é o mesmo. Os dois foram derrotados em lutas apertadas. No meu caso, vi vitória de Borrachinha contra Romero e vi vitória de Marlon contra Aldo, mas em ambos os casos o duelo foi tão apertado que cabia vitória pra qualquer um dos dois lados.
O questionamento que fica é: se esses caras perderam suas lutas, por que o UFC não colocou alguém que vem de vitória na categoria pelo cinturão?
Qual a vantagem de Romero e Aldo contra o resto da divisão na corrida pelo cinturão? Apesar da derrota polêmica, ambos fizeram lutas para lá de empolgantes. E o principal: são pretendentes muito mais lucrativos aos campeões.
É claro que tem muito mais gente interessada em ver um José Aldo x Henry Cejudo do que um Cejudo x Aljamain Sterling, assim como tem mais gente interessada num Romero x Adesanya do que num Adesanya x Jared Cannonier.
Mas o problema do UFC promover dois lutadores vindos de derrotas a uma disputa de cinturão em tão pouco tempo é que isso abre um precedente terrível. Imagina se a moda pega. Lutadores vão valorizar mais o trabalho fora do cage do que o de dentro. Uma derrota no octógono pode ser amenizada com alguns tweets bem colocados e provocações na internet?
Por outro lado, esse tipo de decisão pode trazer um novo entendimento aos lutadores, o que a longo prazo pode colher frutos. O UFC pode tá querendo dizer que é melhor você perder uma luta empolgante do que ganhar uma luta morna.
Eu não acho que esse é o caso, acho que na verdade o UFC tá simplesmente escolhendo as opções mais lucrativas e ao mesmo tempos ouvindo seus campeões. Tanto Israel Adesanya quanto Henry Cejudo pediram por tais desafios.
Então a organização pode simplesmente se apoiar na vontade dos dois e dar isso como desculpa caso seja confrontada sobre a decisão de colocar lutadores vindos de derrota pelo cinturão. Prova é a declaração do presidente do UFC a ESPN sobre a negociação de Aldo x Cejudo: “Cejudo queria essa luta, Aldo queria essa luta, e quem não gostaria de ver essa luta”?
Que fique claro: José Aldo e Yoel Romero, hoje, parecem lutas bem competitivas e desafios decentes a Cejudo e Adesanya. Também não é qualquer um que ganha essa moral. Os caras tem história, tem que respeitar.
Lembrando que não é a primeira vez que esse lance de lutador vindo de derrota disputar cinturão acontece no UFC. Isso já aconteceu algumas vezes no passado. A questão aqui é debater as consequências dessa decisão repetida, uma vez que ela resultou na luta principal do UFC 248 e ao que tudo indica vai resultar na luta principal do UFC 250.
Será que esse tipo de ação do UFC pode abrir um precedente que mais uma vez escracha a força do entretenimento contra a esportividade? Ou será que Aldo e Romero são, de fato, casos à parte?